Trata-se do Festival B, um projeto "único e inovador" promovido pela Câmara de Beja para aliar, celebrar e promover três patrimónios imateriais da humanidade: cante alentejano, fado e dieta mediterrânica, disse hoje o presidente do município, o socialista Paulo Arsénio, na apresentação da iniciativa.
Por outro lado, continuou, o festival também vai promover o amor e valorizar o imaginário romântico da "grande história de amor" de Soror Mariana Alcoforado, religiosa da Ordem de Santa Clara, do Convento da Conceição de Beja, que nasceu, viveu e apaixonou-se na cidade pelo cavaleiro francês Noël Bouton, Marquês de Chamilly, por quem nutriu um amor não correspondido.
O nome do festival "assenta em quatro vertentes começadas por B: Beja, Baixo Alentejo, bianual e bitemático", explicou, referindo que o B é um projeto para quatro anos, sendo que a 1.ª e a 3.ª edições, em 2018 e 2020 respetivamente, vão ser dedicadas ao cante alentejano, ao fado e à dieta mediterrânica e ter a designação Festival B - Cante, Fado & Petiscos.
Já a 2.ª e a 4.ª edições, em 2019 e 2021 respetivamente, vão ser dedicadas ao amor e ao imaginário romântico da "mítica" freira de Beja e ter a designação Festival B - Cidade de Mariana Alcoforado.
A freira ficou imortalizada pelas célebres cinco cartas de amor dirigidas ao cavaleiro, "Cartas Portuguesas", que testemunham o seu amor não correspondido e que é considerado uma das grandes histórias de amor em Portugal.
Após a primeira edição, em francês, em 1669, sucederam-se centenas de edições das cartas em várias línguas, além de poemas, peças de teatro, filmes e outras obras inspiradas na história de amor da freira.
A 1.ª edição do festival vai decorrer entre os dias 22 e 24 de junho deste ano e incluir 25 espetáculos musicais em quatro palcos instalados no centro histórico, nomeadamente junto ao Núcleo Museológico da Rua do Sembrano, ao Museu Regional de Beja - Rainha D. Leonor, na Praça da República e no castelo.
O município também quer "valorizar o património edificado" e, por isso, os cenários dos palcos da 1.ª edição serão aqueles monumentos, explicou, frisando que "não haverá espetáculos em simultâneo, nem palcos principais e todos os palcos e espetáculos terão a mesma importância".
Os espetáculos vão ser criados "propositadamente" por cerca de 40 artistas e grupos e que vão gerar diálogos e fusões entre o cante alentejano e o fado e outros géneros musicais, como pop, hip-hop e morna, explicou o diretor artístico do B, o cantor Paulo Ribeiro, de Beja.
Segundo o cantor, "o cante e o fado, sendo patrimónios da humanidade, não podem ser expressões absolutamente estanques e têm de dialogar com outras expressões musicais, outras culturas e tem de estar abertos ao mundo, porque são do mundo".
Alguns dos espetáculos resultarão de residências artísticas, que vão decorrer nos dias 18 e 19 de junho em Beja, e outros de trabalhos preparatórios entre os grupos e artistas.
Dos espetáculos previstos, destacam-se os de Cuca Roseta & Vocalistas e de Marco Rodrigues & Cantadores de Beringel, no dia 22, de Nancy Vieira & António Caixeiro e de Ricardo Ribeiro & Ganhões de Castro Verde, no dia 23, e de Celina da Piedade & Grupo Coral Espigas Douradas, de Moços da Aldêa + Valas + Fernando Pardal e de katia Guerreiro & Bafos de Baco, no dia 24.
Paulo Arsénio disse que o município quer envolver os agentes de hotelaria e restauração locais na criação de pacotes de alojamento e restauração específicos, "interessantes e convidativos" para atrair pessoas a Beja para o festival.
Segundo o autarca, as edições de 2018 e 2020 do festival deverão custar cerca de 150 mil euros e as de 2019 e 2021 cerca de 140 mil euros, verbas que serão asseguradas pela Câmara de Beja.
No entanto, frisou, os custos de cada uma das quatro edições do festival para a Câmara de Beja poderão ser "diminuídos" caso haja patrocinadores e se forem aprovadas as candidaturas apresentadas pelo município para obter cofinanciamento por fundos comunitários.
Questionado pela Lusa, o autarca disse que o Festival B não vem substituir o Festival Beja na Rua, que teve duas edições promovidas pela Zarcos - Associação de Músicos de Beja em parceria com várias entidades, como o município, uma em 2016 e outra em 2017, entre meados de junho e meados de julho, durante o anterior mandato em que o município foi liderado pela CDU.
"Não há uma substituição direta de um pelo outro", porque o B é "novo" e o Beja na Rua "acabou, não tem continuidade", disse, frisando que o Beja na Rua não era promovido pela Câmara de Beja, mas pela associação Zarcos.
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