Descon’FIMFA Lx20 é uma produção da companhia A Tarumba - Teatro de Marionetas, com direção artística de Luís Vieira e Rute Ribeiro, que este ano terá uma “edição especial de verão” entre 5 de agosto e 5 de setembro, em Lisboa, e não em maio como é habitual.
Os organizadores do festival trabalharam durante meses num programa que celebrava em maio os 20 anos do FIMFA, mas, devido à pandemia de covid-19, foram obrigados a adiar a celebração para 2021, disse à Lusa Luís Vieira.
“Tínhamos grandes expectativas de conseguir realizar a festa dos 20 anos do festival em maio, mas percebemos que seria impossível. Falámos com as companhias e pensámos em reagendar para 2021, uma celebração a que vamos chamar “FIMFA Lx20 anos + 1”, explicou.
Assim, foi criada “a programação possível este ano, no contexto dramático que estamos a viver, em que tentámos repescar o que era a ideia de um festival que acontecia anualmente”, acrescentou Luís Vieira.
Nesta edição, com um outro formato, o FIMFA “apresenta-se a ‘desconfinar’, junto dos seus espetadores”, adotando todas as medidas de proteção e segurança preconizadas pelas autoridades de saúde, e que obrigaram a reduzir para menos de metade a lotação das salas e, por isso, a alargar o período de apresentações.
Durante um mês, irão passar pelo Teatro do Bairro, Teatro Taborda e Castelo de S. Jorge, oito projetos de quatro nacionalidades: Portugal, Espanha, México e Bélgica.
O conjunto de espetáculos a ser apresentado fala de paisagens que fazem parte do imaginário global, mas que já não existem, fala de turismo de massas, desagregação social, risco, medo do futuro, democracia, memória, amor e morte, mas também de mundos ideais, tentativas de reconstrução do imaginário coletivo e de aprender a viver de novo, adiantou.
Na abertura do Festival, o palco do Teatro do Bairro recebe Jomi Oligor, dos irmãos Oligor (Espanha), e Shaday Larios, da Microscopía Teatro (México), que apresentam em estreia nacional “La Melancolía del Turista”, uma viagem em torno da vida secreta dos objetos, das paisagens e dos paraísos perdidos.
“Fala da melancolia do turista e da ideia de paraíso de férias, que normalmente é uma desilusão, porque não passa de uma imagem que construímos”, disse o diretor do festival.
Em cena aparecem e desaparecem sombras, imagens analógicas, mecanismos frágeis, miniaturas de papel e de lata, num “delicado teatro-cinema com uma poesia maravilhosa e surpreendente”.
A mesma companhia vai ter em reposição o espetáculo “La Máquina de la Soledad” (já apresentado em 2015), um teatro de objetos documental, construído a partir de uma mala cheia de cartas de amor de 1900, encontrada no México, e da história de um casal entre a ficção e a realidade.
“É um espetáculo que reflete sobre a comunicação através das cartas, como se fossem um objeto pré-histórico. Mas a carta é um elemento de confidência e de intimidade e é um veículo muito poderoso para viajar até à privacidade”, disse o diretor.
Luís Vieira destacou também as novas produções do Teatro de Ferro e de André Murraças, dois projetos em estreia.
“Triângulo Cor-de-Rosa”, de André Murraças, debruça-se sobre a Berlim dos anos 1920, cidade da modernidade, que se viu invadida pelos nazis, e foca-se nos homens que foram marcados e identificados por um triângulo cor-de-rosa no peito, nos campos de concentração, duplamente discriminados por serem judeus e homossexuais.
Através dos seus objetos pessoais e das memórias que estes guardam, André Murraças conta as suas histórias.
O Teatro de Ferro apresenta “Uma Coisa Longínqua”, sobre a fuga de um conjunto de obras de arte para o deserto, um filme-performance, com a colaboração do compositor Carlos Guedes.
A criação “Este não é o Nariz de Gógol, mas podia ser... com um toque de Jacques Prévert”, de A Tarumba, inspira-se no universo de Gógol e Jacques Prévert, com objetos e figuras articuladas, de papel, num ambiente 'kitsch', entre o Festival da Eurovisão e a Rússia dos anos 70, em que por trás do humor se esconde uma crítica satírica ao mundo contemporâneo.
A companhia Formiga Atómica, de Inês Barahona e Miguel Fragata, leva à cena “A Caminhada dos Elefantes”, um espetáculo para a família, sobre um homem singular e uma manada de elefantes, mas também sobre a vida, a morte e o caminho que todos temos um dia de fazer, para nos despedirmos de alguém.
No Castelo de S. Jorge, a companhia PIA - Projectos de Intervenção Artística aborda as culturas tradicionais dos Gigantes, com marionetas de grande dimensão.
O encerramento do festival cabe à artista belga Agnès Limbos e ao trompetista Gregory Houben, que, com o espetáculo “Ressacs”, contam a história de um casal falido, “com humor e ironia”.
Segundo Luís Vieira, “são as aventuras trágico-cómicas do casal, tendo como fundo a crise de endividamento, numa crítica à sociedade de consumo e à vida atual, em que os extremismos ganham protagonismo”.
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