A escolha do júri recaiu, nesta edição do prémio, nas obras “[Da casa]: o seu inclinado murmúrio”, de Elvira Nhamane, pseudónimo de Gibson João, e “Incêndios à margem do sono”, de Aconteceu Castigo Namussurize, pseudónimo de Óscar Fanheiro, divulgou hoje a Câmara de Óbidos, parceira da iniciativa.

Sobre a obra de Gibson João, de 21 anos, o júri considerou tratar-se de” um livro marcado por uma apurada maturidade poética, que se enovela num modo discursivo a uma só voz, rico e sucinto”.

“As palavras encenam neste livro uma sedução quase física, ou melhor, as palavras parecem estar a incarnar à nossa frente, artificio que resulta claramente de uma prática continuada de leitura”, refere um comunicado em que o júri sustenta as razões da atribuição do prémio.

Quanto ao livro de Óscar Fanheiro, foi considerada uma obra “visceral, que revela a sobriedade do autor na estruturação dos versos e na extensão da emoção da palavra”. O júri destaca a “escrita desconcertante, incisiva, na qual se misturam o 'chulo' e o nobre, as metáforas mais ricas e a rudeza do vigor coloquial, o realismo sujo e algumas imagens sublimes, numa comunicação polifónica que, não sendo sempre orquestrada com absoluto ajuste, é de uma inegável coerência estética e se manifesta numa liberdade que deve ser apanágio dos poetas”.

Os dois livros “são como que mutuamente complementares, dado o caráter solar de “[Da casa]: o seu inclinado murmúrio” e o caráter noturno de “Incêndios à margem do sono”, motivo que justifica a atribuição 'ex aequo' do prémio”, explicou o júri composto por António Cabrita (poeta, editor e crítico), Francisco Guita Jr. (poeta), Gilberto Matusse (professor de literatura na Universidade Eduardo Mondlane e ensaísta), José dos Remédios (jornalista e crítico literário) e Lica Sebastião (poetisa).

O Prémio Fernando Leite Couto, pai do escritor Mia Couto, foi instituído em 2017 com o objetivo de promover e premiar jovens escritores moçambicanos.

Desde 2021 conta com a parceria do Camões – Centro Cultural Português em Maputo, da Câmara de Comércio Portugal Moçambique (CCPM), da Câmara Municipal de Óbidos e do Moza-Banco, o que tornou possível atribuir 150 mil meticais (aproximadamente dois mil euros) ao vencedor.

Os vencedores da cada edição ganham ainda a possibilidade de ter a respetiva obra impressa pela CCPM e ganhará uma viagem a Portugal, para participar no FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, que este ano decorre de 12 a 22 de outubro.

Os autores realizarão também, nesta vila do distrito de Leiria, uma residência literária e, no regresso a Moçambique, terão apoio do Camões – Centro Cultural Português, para divulgar as respetivas obras e orientar oficinas literárias, numa das suas delegações, em Moçambique.

A atribuição ‘ex aequo” do prémio já aconteceu no ano passado, com a vitória de Maya Ângela Macuacua, com o romance “Diamantes pretos em meio a cristais”, e Jeremias José Mendoso com a coletânea de contos “Quando os mochos piam”.

O prémio foi, pelo segundo ano consecutivo, entregue no Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, numa mesa de autores em que participaram os dois jovens escritores.

Anteriormente o Prémio Fernando Leite Couto tinha sido atribuído a Macvildo Pedro Bonde, com o livro de poemas “Descrição das Sombras”, em 2017, e Otildo Justino Guido, com a obra “O Silêncio da Pele”, em 2019.