Coube a Taylor Swift inaugurar a noite de segunda-feira no Staples Center, em Los Angeles, com uma atuação centrada em "Out of the Woods", e seria também ela a fechar a madrugada da entrega de prémios da Academy of Recording Arts and Sciences, ao subir novamente a palco para agradecer o galardão de Álbum do Ano, por "1989". Mais do que derrotar Kendrick Lamar, o principal concorrente na categoria mais cobiçada da cerimónia, a norte-americana destacou-se por ser a primeira mulher a conseguir essa distinção pela segunda vez - depois de "Fearless", em 2010.

Dirigindo-se em particular a cantoras em início de carreira, Swift preveniu que "haverá pessoas que vão tentar menorizar o vosso sucesso ou ficar com os créditos das vossas conquistas ou da vossa fama", apelo que nas redes sociais tem sido interpretado como uma reação, pelo menos parcial, a uma das canções mais recentes de Kanye West ("Fame", na qual o rapper entoa versos como "I feel like me and Taylor might still have sex / Why? Because I made that bitch famous").

Independentemente da motivação da declaração, que continuou com um incentivo ao "foco no trabalho", o prémio dá um novo impulso à consagração da cantora no cenário pop atual, e por extensão ao impacto das mulheres na indústria musical - que no seu caso se traduz não só em galardões mas também em vendas, ou não estivessem os Grammys muitas vezes em concordância com estas.

Prisão e celebração

Ainda mais contundente do que Swift, Kendrick Lamar tem dado que falar nas redes sociais não tanto por ter sido o artista mais premiado da noite (em cinco categorias das 11 para as quais estava nomeado), mas sobretudo por uma atuação que concentrou atenções numa cerimónia sem grandes momentos memoráveis. Num medley com "The Blacker The Berry", "Alright" e um inédito, o rapper trouxe algum nervo a um desfile até aí quase sempre centrado em canções moles e indistintas - de Carrie Underwood com Sam Hunt aos Little Big Town, passando por Andra Day com Ellie Goulding, um The Weeknd cada vez mais polido ou os uivos de James Bay e Tori Kelly.

Conjugando hip-hop e jazz com cenários que foram do ambiente urbano de uma prisão ao ritual tribal acompanhado de uma fogueira gigante em palco, o autor de "To Pimp a Butterfly" aludiu ao movimento "Black Lives Matter" e à situação dos afro-americanos nos EUA, no episódio mais politizado da noite e também num dos poucos com grande sentido de espetáculo - ou pelo menos mais elaborado do que tantos outros ao nível de um banal concurso de talentos de domingo à noite, tanto na produção como na música.

Entrando em palco acompanhado de bailarinos para terminar sozinho, com direito a grandes planos e strobes, Lamar pode não ter levado para casa o Grammy mais disputado da noite, mas terá subido mais uns degraus rumo ao trono do hip-hop - tanto pela atuação como pelo triunfo nas categorias de Melhor Álbum de Rap ("To Pimp A Butterfly") e Melhor Canção de Rap ("Alright").

Cuidado com as (l)imitações

Noutra das ocasiões mais aguardadas, Lady Gaga homenageou um dos seus heróis, David Bowie, no tributo de maior exuberância de uma noite que contou com muitos outros - a Michael Jackson, Maurice White (Earth, Wind & Fire), B. B. King ou Glenn Frey (dos Eagles). E se é verdade que serviu um espetáculo de luz e cor como nenhuma outra atuação, num medley esforçado e acelerado, também não foi muito além do que se esperaria, ao apostar nos temas óbvios ("Space Oddity", "Changes", "Ziggy Stardust", "Fame" ou "Let's Dance", este a convocar Nile Rodgers) ao lado de uma recriação visual da fase glam do cantor.

No meio de três horas e meia muitas vezes insípidas, o lado teatral acabou por sobressair, mas alguém tão idiossincrático como Bowie merecia uma abordagem mais transgressora, ou no mínimo imaginativa, e uma cantora como Gaga poderia ter arriscado mais na persona, em vez de se sujeitar ao decalque na linha de um "Chuva de Estrelas" com orçamento mais generoso.

Lady Gaga - Grammys

Ainda assim, o nome de primeira linha mais desapontante terá sido Adele, mal servida por uma balada feita a regra e esquadro como "All I Ask", por falhas de som (que não foram as únicas ao longo da noite) e pela sua própria prestação, sem a entrega e força que muitos lhe reconhecem - mesmo muitos dos que não são especialmente adeptos da sua música. Tão aguardada como facilmente esquecida, a atuação foi eclipsada por relativas surpresas como o medley de êxitos de Lionel Richie, a cargo de John Legend, Demi Lovato ou Meghan Trainor. Ou como os Alabama Shakes, despojados, seguros e contemplados com a Melhor Canção Rock ("Don't Wanna Fight").

Mais elétricos, os Hollywood Vampires - ou seja, Alice Cooper, Johnny Depp e Joe Perry - tiveram na cerimónia a sua estreia televisiva. O supergrupo arrancou com o inédito "As Bad As I Am" antes de recordar Lemmy Kilmister em "Ace of Spades", clássico dos Motörhead, no maior (e único?) concentrado de distorção da noite. Nada de novo para a música, é certo, mas foi remédio santo - e literalmente flamejante - para uma noite que bem precisava de alguma crueza e energia. Se os novos quase não se chegaram à frente, antes os veteranos...

Sem ser propriamente um novato, mas também longe de veterano, Justin Bieber voltou a esmerar-se, depois dos MTV VMAs 2015, para limpar a imagem numa atuação que foi do acústico ao eletrónico, convidando Diplo e Skrillex para a vertente mais dançável. Outra estrela pop aguardada, Rihanna acabou por não atuar, devido a uma alegada recomendação médica na sequência de uma bronquite. A cantora de "Anti" não foi a única ausência inesperada, uma vez que Lauryn Hill deveria ter atuado com The Weeknd mas também não compareceu - e explicaria nas redes sociais que a organização do evento deu como certa uma presença não confirmada. Por outro lado, Gwen Stefani até aproveitou o intervalo para estrear, ao vivo, o videoclip de um dos seus novos temas, "Make Me Like You".

Transmitida em Portugal pela SIC Caras, a cerimónia apresentada por LL Cool J foi acompanhada no canal por Maria Botelho Moniz, que evitou, e bem, comentar as entregas de prémios e as atuações enquanto decorriam, deixando as suas observações e comentários dos telespectadores via internet para os muitos intervalos. A ideia de que "tudo pode acontecer nos Grammys" ficou entre as mais repetidas, mas infelizmente, e seguindo a tendência dos últimos anos, também ficou quase sempre por concretizar.

LISTA DE VENCEDORES:

Gravação do Ano: “Uptown Funk” – Bruno Mars feat. Mark Ronson

Álbum do ano: “1989” – Taylor Swift

Canção do ano: “Thinking Out Loud” – Ed Sheeran (Compositores: Ed Sheeran e Amy Wadge)

Melhor Novo Artista: Meghan Trainor

Melhor Performance Pop Solo: “Thinking Out Loud” – Ed Sheeran

Melhor Performance Pop de Duo ou Grupo: “Uptown Funk” – Mark Ronson Feat. Bruno Mars

Melhor Álbum Vocal Pop: “1989” – Taylor Swift

Melhor Videoclip: “Bad Blood” – Taylor Swift feat. Kendrick Lamar

Melhor Álbum de Rap: “To Pimp A Butterfly” – Kendrick Lamar

Melhor Parceria de Rap: “These Walls” – Kendrick Lamar feat. Bilal, Anna Wise & Thundercat

Melhor Performance de Rap: “Alright” – Kendrick Lamar

Melhor Canção de Rap: “Alright” – Kendrick Lamar

Melhor Álbum Alternativo: “Sound & Color” – Alabama Shakes

Melhor Álbum de Rock: “Drones” – Muse

Melhor Performance de Rock: “Don’t Wanna Fight” – Alabama Shakes

Melhor Canção de Rock: “Don’t Wanna Fight” – Alabama Shakes

Melhor Performance de R&B: “Earned It (Fifty Shades Of Grey)” – The Weeknd

Melhor Canção de R&B: “Really Love” – D’Angelo & Kendra Foster, compositores (D’Angelo And The Vanguard)

Melhor Álbum R&B: “Black Messiah” – D’Angelo and the Vanguard

Melhor Álbum Urbano Contemporâneo: “Beauty Behind the Madness” – The Weeknd

Melhor Álbum Dance/Eletrónico: “Skrillex And Diplo Present Jack Ü” – Skrillex e Diplo

Melhor Gravação Dance/Eletrónico: “Where Are Ü Now” – Skrillex e Diplo com Justin Bieber

Melhor Banda Sonora: Glen Campbell: I’ll Be Me

Melhor Música de Banda Sonora: “Glory” – Lonnie Lynn, Che Smith & John Stephens, compositores (Common & John Legend)

Melhor Filme Musical: “Amy” – Amy Winehouse

Melhor Álbum de Rock, Urbano ou Alternativo Latino: “Dale” – Pitbull

Melhor Álbum Pop Latino: “A Quien Quiera Escuchar (Deluxe Edition)” – Ricky Martin

Lista completa de vencedores no site oficial do evento

Fotos: Lusa/EPA

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