O NOS Alive é um verdadeiro fenómeno. Uma avalanche de palcos, de concertos, de estilos, de boas soluções para descobrirmos boa música e até encontrar surpresas. Na retina ficam-nos as guitarras (e o encore) de Black Keys, toda a programação do palco Heineken e, tan tan tan, a grande festarola que os Parov Stelar armaram - exactamente nesse palco.
Comecemos pelo fim. Os cabeças de cartaz do último dia de Alive não deixavam muita água na boca para a maioria, daí ser tão fácil romper pelas filas do palco principal. Muitos preferiram experimentar outros palcos (Daughter e Chet Faker eram alternativas de luxo), mas perderam uns Libertines saudáveis (e como este adjectivo é importante quando nos referimos à banda) e intensos. Carl Barât e Pete Doherty vestiram-se de capitães e reavivaram aquele rock de travo britânico e elegante de saudosos tempos. Quem não conhecia e repousava nas imediações acabou a dançar com as guitarras e ainda cantou o refrão de "Can't stand me now". Foi um regresso inesperado mas feliz. Numa fugaz passagem pela varanda da zona VIP, percebemos que não há muito para invejar: fica tão longe do palco que os artistas mal se vêem, enquanto que o som já chega todo dorido.
No dia anterior foram os Black Keys os grandes senhores da noite. Para além de terem corrigido a primeira impressão que deixaram em Portugal (a má qualidade do som prejudicou toda a prestação), foi praticamente unânime que estiveram à altura das melhores expectativas (consenso que não houve sobre Arctic Monkeys, um dia antes). De um alinhamento exactamente igual a concertos anteriores, felizmente com pouco de "Fever", destacamos o momento arrepiante em que o refrão de "Little Black Submarines" é cantado a capella pela multidão. De resto, mesmo não conhecendo a fundo todas as letras, era impossível não ficar preso àqueles riffs. Rock de início ao fim. E do bom.
Durante a tarde passeámos por todos os palcos e detivemo-nos durante algum tempo no pórtico de entrada. Mal chegas ao Alive há logo programação para te receber. Com uma plateia volante, que só passa e não fica, é interessante ver como os DJ's e as bandas que ali atuam se esforçam por conquistar a atenção dos festivaleiros, ainda que por escassos momentos. É, aliás, o que acontece um pouco por todos os palcos alternativos. A tamanha concorrência a isso obriga; felizmente, esse esforço traz bons resultados.
Vejamos as cinco da tarde do Clubbing. A internet ficou suspensa durante 40 minutos. Não por problemas técnicos, mas porque 10 (ou nove, porque um ficou a estudar) dos tipos que mais curtem a internet em Portugal compõem os Gin Party Soundsystem e foram artistas de renome por uma tarde. Aquilo que é sobretudo uma brincadeira - com pistolas de água, músicas que fizeram furor nas pistas de dança nos anos 00, crowdsurfing, flores ao pescoço e camisas havaianas - resultou numa plateia digna (para memória eterna) e ainda teve a ajuda da Carolina Torres e de Alex D'Alva Teixeira. Que regabofe.
No dia anterior o mesmo Alex tinha estado no palco a apresentar D'Alva, o seu projeto com Ben Monteiro. #batequebate foi acompanhado por um coro gospel, que teve tanto de surpreendente como de fantástico. É uma verdadeira bola de gelado, e é o próprio que o diz. E tínhamos acabado de sair do "funeral" dos Vicious Five no palco principal. Valeu sobretudo pelas palavras de Joaquim Albergaria entre as músicas (falou de amor, de juventude, dos filhos, de recibos verdes...), mas, apesar de ser o primeiro concerto da banda desde 2008, aquele palco não terá sido o mais indicado. A "Smile on those daggers", a preferida deste que escreve, não foi tocada. Raios.
O melhor fica para o fim. Para Parov Stelar terem honras de lead é porque aquilo foi mesmo bom. Vimo-nos a conduzir um enorme comboio, que deu boleia a malta de muitas nacionalidades. A música raptou-nos completamente da zona da restauração e demos por nós na maior surpresa de todas (e num dos melhores concertos) de todo o Alive. Agora é estudar a discografia e começar a usar e abusar de Parov Stelar em todas as festas de amigos.
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