Patente ao público no Foyers do Auditório de Serralves, até 11 de julho, a exposição é um exercício coletivo de sinalização de marcos relativos ao desenvolvimento e disseminação da dança como prática artística em Portugal desde o século passado.

Intitulado "Para uma ‘timeline’ a haver - Genealogias da dança enquanto prática artística em Portugal", o projeto expositivo, levado a cabo intermitentemente desde 2016, procura, nesta 5.ª edição, "cruzar num único diagrama, em dois pisos, textos e imagens, dispostos cronologicamente, ano a ano, desde 1900 até 2020, criando uma cartografia narrativa para a dança em Portugal".

"Exposição a exposição, nós vamos mostrando diferentes conteúdos, que esta investigação tem vindo a descobrir e a acumular. No fundo, a gerar um repositório e um arquivo dedicado à notação dos eventos canónicos da história da dança, mas também de eventos dos anais da história de figuras não tão conhecidas", explicou o coreógrafo e performer Carlos Manuel Oliveira, um dos autores deste evento expositivo.

Na edição de 2021, adiantou Carlos Manuel Oliveira à agência Lusa, a exposição vai ocupar uma área de "80 metros de parede", o que permitiu concretizar o maior evento expositivo na história deste projeto de investigação historiográfico.

No piso 0 dos Foyers do Auditório de Serralves figuram os três primeiros quartos do século XX português: dos últimos anos da monarquia ao fim do Estado Novo, passando pela 1.ª República.

Já na escadaria, tem lugar o percurso pelo 25 de Abril até à adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE), concretizada em 1986, concluindo-se a exposição no piso 1 com o período democrático.

Neste diagrama, justapõem-se documentos de natureza diversa: informação encontrada em livros especializados, espólios pessoais e fontes primárias, textos "de autor" encomendados, imagens de arquivo reproduzidas e documentos originais.

De acordo com o historiador e coreógrafo, a metodologia desenvolvida - "de leitura comparada dos eventos" - permite compreender "como contextos sociais, económicos" determinam, por um lado, "o tipo de corpos" e de danças que se apresentam e, por outro, a forma como são apresentadas, difundidas e recebidas.

"Nós abrimos a exposição com uma escultura da Nádia Laura - artista plástica e cenógrafa que é um meteorito. No fundo uma espécie de metáfora para esta geração da Nova Dança Portuguesa, que caiu como uma espécie de meteorito nos anos 90; (...) ao mesmo tempo [esta obra] serve como contraponto a uma exposição que não é de obras artísticas, mas de entradas iconográficas e textuais que remetem para obras", observou.

Integrada na 6.ª Edição do Festival DDD - Dias da Dança, que decorre até 30 de abril, a exposição é da autoria de Carlos Manuel Oliveira, coreógrafo, performer e investigador, Ana Bigotte Vieira, que faz parte da equipa de programação do Teatro do Bairro Alto, e de João dos Santos Martins, artista que esteve recentemente associado a trabalhos de Eszter Salamon, Xavier le Roy, Moriah Evans e Ana Rita Teodoro.

O projeto expositivo que permanece em Serralves até julho deverá, em 2022, ser visto em Coimbra e Lisboa, em datas ainda a agendar, adiantou Carlos Manuel Oliveira à Lusa.