Roberto Saviano, de 43 anos, conhecido pelo seu best-seller sobre máfia "Gomorra" (que inspirou um filme e uma série homónimos), corre o risco de até três anos de prisão se for condenado.

A audiência foi marcada pela nona seção do Tribunal Criminal de Roma e foi presidida pela juíza Roberta Leoni.

Meloni, então líder do partido de extrema-direita Irmãos de Itália, na oposição na altura, que sempre foi a favor de uma política rigorosa contra a migração, não esteve presente na audiência, pois está em Bali, na Indonésia, na cúpula de chefes de Estado do G20.

O caso remonta a dezembro de 2020, quando Saviano comentou num programa de televisão sobre a morte de um bebé da Guiné de seis meses durante um naufrágio e chegou a acusar Meloni do uso político do fenómeno da migração.

"Só posso dizer a Meloni e [Matteo] Salvini: bastardos! Como é que eles podem fazer algo assim?", lamentou Saviano no programa.

O escritor estava a referir-se ao bebê, Joseph, um dos 111 migrantes resgatados pelo navio de ajuda Open Arms, que morreu antes que pudesse receber tratamento médico.

A indignação de Saviano foi desencadeada pelas declarações de Meloni, que em 2019 havia dito que os navios de ONGs humanitárias que resgatam migrantes “deveriam afundar-se”, enquanto Salvini, ministro do Interior naquele ano, havia ordenado o bloqueio da entrada na Itália desses navios carregados de migrantes depois de dias à deriva.

Organizações que defendem a liberdade de imprensa e expressão, incluindo a PEN International, pediram a Meloni que retire a denúncia.

“Continuar com esta ação judicial envia uma mensagem alarmante a todos os jornalistas e escritores do país, que vão deixar de falar livremente por medo de represálias”, denunciou o PEN, organização internacional de jornalistas e escritores.

O autor, que está sob proteção policial desde que publicou "Gomorra" (2006) devido a ameaças da máfia, considera que se trata apenas de mais uma intimidação.

"Intimidar um para intimidar cem", disse ele à AFP.

Inúmeros intelectuais e jornalistas expressaram a sua solidariedade com Saviano nas redes sociais e censuraram a lei de Itália, onde jornalistas e escritores podem ser denunciados e presos pelo que dizem ou escrevem.

A “passividade e inércia do governo e do parlamento italianos” acabam por ser “cúmplices dos inimigos da liberdade de imprensa”, diz Saviano.

De acordo com Repórteres Sem Fronteiras, Itália ocupa o 58.º lugar no índice mundial de liberdade de imprensa de 2022.