"Eu pensei neste espetáculo no dia em que o José Mário Branco morreu. Sempre quis fazer este espetáculo", contou à agência Lusa Cristina Janicas, que coordena a criação coletiva do recital da Bonifrates.

No recital, que vai ser apresentado na quinta-feira, às 21h30, no Salão Brazil, em Coimbra, a companhia percorre os diferentes momentos da discografia de José Mário Branco, num espetáculo onde há mais palavra dita do que cantada, explicou.

As reflexões políticas, a crítica e a denúncia, o desencanto, o olhar mais poético ou o sarcasmo e a ironia estão presentes num recital que tem quase só textos do próprio autor, músico e compositor, escritos sozinho ou a quatro mãos, com a atriz e encenadora Manuela de Freitas.

Num contexto de pandemia e ainda sem mais datas face à incerteza dos tempos que correm, haverá poemas escolhidos que procuram dialogar com o momento que se vive no país e no mundo.

"O que é que nestes tempos estranhos que vivemos - que são estranhos por causa de um vírus que depois arrasta outras estranhezas como perdas de direitos e empregos - o Zé Mário Branco nos diria? Há poemas que poderíamos pensar que os escreveu para falar sobre o que estamos a viver e outros que nos dão força para viver o momento atual", disse à Lusa Cristina Janicas.

O próprio título do recital, que recupera uma frase que José Mário Branco diz em "FMI", "impôs-se logo", também por causa do atual momento, explicou.

"O que queremos é ser felizes e está difícil", notou.

Segundo Cristina Janicas, apesar de o título surgir do "FMI", essa canção não estará presente no espetáculo.

"O 'FMI' é a voz do Zé Mário Branco. Quem quiser, ouve-a", frisou.

Apesar de a maioria dos poemas ser dita, também haverá momentos musicados, um deles com a introdução da guitarra de Coimbra, acrescentou.

Outra das canções que será musicada é a "Tiro-no-liro", que tem um significado especial para Cristina Janicas.

"No concerto que fez para o aniversário da RUC [Rádio Universidade de Coimbra, em 2003], ele disse que não havia discos pedidos. Mas a minha filha mais nova, com dois anos, esteve o concerto todo a pedir para ele cantar o 'Tiro-no-liro'. O José Mário Branco, já no final do concerto, abriu uma exceção e acabou por tocá-la. E eu tenho a prova disso, o alinhamento, em que está escrito à mão, acrescentado como 'encore', o 'Tiro-no-liro'", contou.

O espetáculo é uma criação coletiva, com a interpretação de Alexandra Silva, Ana Pires, Carlos Coelho, Cristina Janicas, João Janicas, José Nelas, Ofélia Libório, Paula Santos, Paulo Prata e Rui Damasceno, com a participação especial de Simão Mota e apoio nos arranjos musicais de Amílcar Cardoso.