Direcionada, sobretudo, para estudantes, atores em início de carreira, profissionais ou não-profissionais, a iniciativa decorre de um grupo de discussão em torno da obra daquele autor russo, formado em maio, na Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, em Lisboa, a partir de uma proposta de Luís Miguel Cintra, acrescentou à agência Levi Martins, um dos elementos do grupo.
Ator, encenador e pedagogo, nascido em Moscovo em 1863, cidade onde morreu em 1938, Konstantin Stánislavski foi um dos fundadores, aos 35 anos, do Teatro de Arte de Moscovo.
“A preparação do ator” é a sua obra que serviu de base a estudos de preparação de atores ao longo dos tempos e cujos princípios ficaram conhecidos como “O método de Stanislávski”.
Com inscrições abertas até 25 de setembro, os encontros realizar-se-ão nos dias 2 e 3 de outubro, a partir das 14:00, e, no dia 04, a partir das 21:00, realizando-se, depois, os trabalhos em horário pós-laboral de acordo com o interesse dos participantes, Luís Miguel Cintra e a Casa da Achada, referiu Levi Martins.
“Lisboa mudou”, “o país mudou”, “ninguém tem a certeza se para bem, se para mal”, “mas voltar atrás sempre foi um mau caminho”, escreve Luís Miguel Cintra, num documento sobre a iniciativa a que a Lusa teve acesso.
A iniciativa surge por oposição ao teatro que se vê hoje em Lisboa, "que mudou" e no qual “ninguém já nele reconhece o caminho para a utopia do teatro independente”, observa Luís Miguel Cintra, reiterando que passou “a ser normal o Estado não assumir a responsabilidade de espetáculos programados por independentes para bem das populações” enquanto nos teatros do Estado “pouco transparece daquilo que foi a energia que, depois das estruturas do antigo regime, garantiu a atividade teatral ao longo de tantos anos, depois do 25 de Abril".
No entanto, "algum mal-estar subsiste", refere o antigo diretor da Cornucópia que cita mesmo uma situação que viveu quando a tradutora Nina Guerra o alertou da iniciativa de se publicar uma nova tradução do livro de Konstantin Stanislávski diretamente a partir do russo, por parte do Teatro Nacional D. Maria II.
Porque considerou "contraditória” a "agilidade de programação e capacidade de resposta a necessidades de aumento de produção, ou seja, rentabilidade do dinheiro público investido nos espetáculos” por parte daquele teatro com as "boas intenções" do diretor do artístico do D. Maria II, Tiago Rodrigues, que, ao publicar o livro de Stanislávski, pretendia "trabalhar para suprir a falta de obras técnicas e de teoria teatrais e lutar por uma ideia de serviço público de cultura que resiste à cegueira dos mercados”, dando também um “contributo para tornar o teatro mais acessível a todas e todos”.
Isto porque, alega Luís Miguel Cintra, "dificilmente entende nas boas intenções” do diretor do Teatro Nacional D. Maria II “coerência com a mudança do estilo de produção, necessariamente mais apressada e de consumo simples, que tem contribuído para a anunciada, nova e compensadora corrente de público que satisfaz o mercado”.
Além de que o “predomínio da eficácia da programação com critérios de mercado” corta “com a contribuição que o teatro dos chamados grupos independentes julgou dar à história do teatro português”.
A própria preparação do ator, tendente a criar um sistema de ensino para o ator, contido na obra de Stanislávski, dificilmente coincide com os esquemas de produção a que a atividade teatral se vê forçada, argumenta o responsável da extinta Cornucópia.
Bruno Bravo, Diana Dionísio, Eduarda Dionísio, Guilherme Gomes, Levi Martins, Luis Miguel Cintra, Margarida Rodrigues, Nídia Roque, Pedro Rodrigues, Rui Coelho, Vasco Pimentel são os elementos do grupo que se tem reunido regularmente para debater o assunto, nesta primeira fase.
Numa segunda fase, Luís Miguel Cintra diz que serão convocados voluntários entre alunos de teatro e amadores, sendo feita a experiência de, com eles, transformar algumas das cenas narradas por Stanislávski em aulas que o próprio fantasiou em cenas de teatro.
O ator e professor de teatro Diogo Dória foi o convidado para o papel do professor inventado por Stanislávski, “o que ajudará a destruir a distância entre profissional e não-profissional, aliás pouco interessante para o trabalho em si”.
“Pensamos assim tornar prática e concreta a ‘filosofia’ sobre o assunto”, refere Luís Miguel Cintra, acrescentando que “quando o trabalho estiver adiantado” irão convidar um conjunto de “profissionais de reconhecido valor público” para conjuntamente discutirem as ideias lançadas e as soluções cénicas que lhe forem surgindo.
Porque “são todas as pessoas, mais até do que os profissionais de teatro, aquelas que a responsabilidade pública devia ter em mente, como aqueles que têm direito ao acesso às práticas artísticas”, mas “está nas mãos dos atores assumir ou rejeitar as vias para o seu trabalho que, neste momento, lhes estão a ser oferecidas”, sublinha Luís Miguel Cintra.
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