No total, 101 membros do Instituto Nacional de Música do Afeganistão desembarcaram no Qatar no último domingo. Agora, esperam para poderem seguir para Portugal, disse o fundador do Instituto Nacional de Música do Afeganistão, que mora em Melbourne, na Austrália.
Com a ajuda da embaixada do Qatar em Cabul, os músicos foram transportados em pequenos grupos para o aeroporto da capital afegã, relatou Ahmad Sarmast.
Composto de metade homens e metade mulheres, o grupo teve alguns problemas. Militantes talibãs questionaram os seus vistos e disseram que as mulheres não poderiam deixar o país com o documento de trabalho temporário. Em geral, este é reservado para funcionários públicos.
"Acho que não era tanto pelo tipo de passaporte, mas por serem mulheres a deixar o país", disse Sarmast.
As gestões dos diplomatas catarianos resolveram a situação e, horas depois, o voo pôde decolar do Afeganistão.
"Foi um momento de muitas lágrimas. Eu chorava sem parar. A minha família chorava comigo. Foi o momento mais feliz da minha vida", lembra Sarmast ao saber do desfecho bem-sucedido da operação.
Este voo começou a ser planeado logo após o regresso dos talibãs ao poder.
"A partir do momento em que os talibãs assumiram o poder em Cabul, começou a discriminação contra a música e os músicos", contou Sarmast.
De acordo com Sarmast, os talibãs pediram aos membros do instituto que ficassem em casa até novo aviso e, passados dois meses, nenhuma nova instrução foi dada.
Este voo é a primeira fase, disse o fundador do instituto, que espera conseguir retirar os 184 professores e alunos que ainda estão no Afeganistão.
Numa declaração recente, Sarmast afirmou que, ao silenciar os músicos e privar as crianças de poderem tocar um instrumento, os talibãs "abre o caminho para o desaparecimento da rica herança musical afegã".
No seu mandato repressivo, no período de 1996 a 2001, os talibãs aplicaram uma versão rigorosa da Sharia (lei islâmica), proibindo jogos, música, fotos e televisão.
Desta vez, prometem ser mais moderados, mas ainda não definiram uma postura clara sobre a música, por exemplo. Moradores acusaram os talibãs, porém, de terem assassinado uma cantora folk em Andarab, no nordeste do país, no final de agosto.
Sobre o patrimônio, fonte de preocupação após a destruição das estátuas de Buda, por parte dos islâmicos, em Bamiyan em 2001, os talibãs não fizeram qualquer declaração oficial desde fevereiro, quando alegaram querer preservá-lo.
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