“Conan Osíris, vimos por este meio pedir-te que não vás a Telavive em representação de Portugal na Eurovisão, respondendo ao apelo do povo oprimido palestiniano”, começam por dizer os artistas na carta aberta hoje divulgada.
Entre os subscritores da missiva estão o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, músicos como José Mário Branco, Chullage, Francisco Fanhais e Vítor Rua, a realizadora Raquel Freire, escritores, entre os quais Alexandra Lucas Coelho e Afonso Cruz, a coreógrafa e bailarina Olga Roriz, artistas plásticos como Joana Villaverde, e atores, entre os quais Maria do Céu Guerra, Pedro Lamares e Sara Carinhas.
Para os mais de 40 artistas que assinam a carta, Conan Osíris marcar presença no concurso “seria ignorar o cerco ilegal que Israel mantém a 1,8 milhões de palestinianos em Gaza, negando-lhes os direitos mais básicos”.
“Entre 41 quilómetros de comprimento por seis a 12 de largura, os habitantes vivem com água racionada, estão cercados por muros e soldados, são agredidos e assassinados de forma impune. A ONU considera que Gaza é ‘inabitável’”, recordam.
Os subscritores da carta consideram que Conan Osíris conseguiu “deslumbrar Portugal” com a sua “música e honestidade”, e pedem-lhe que não deixe que Israel use a sua “arte para branquear os seus crimes contra o povo palestiniano”. “Junta-te a milhares de artistas de todo o mundo que se expressaram contra a Eurovisão em Israel”, pedem, garantindo que o apoiarão: “estaremos contigo”.
Os artistas alertam o músico que “a escassos minutos” de onde vai decorrer o Festival Eurovisão da Canção, “vivem ainda 2,7 milhões de palestinianos aprisionados por um muro de apartheid ilegal”.
“O parlamento israelita aprovou este estado de apartheid através da ‘Lei do Estado-Nação do povo judeu’, que declara a superioridade racial de israelitas judeus. Já foi condenada pela União Europeia, incluindo por Portugal”, referem.
Israel acolhe este ano o concurso, porque no ano passado foi o país vencedor, com Netta Barzilai e o tema “Toy”. Em Lisboa, onde decorreu a final, lembram os artistas, a cantora “emocionou-se, a festa fez-se com luzes, música e estrondo”, mas “dois dias depois, o estrondo foi outro: soldados israelitas massacraram 62 palestinianos, incluindo seis crianças”.
“Da mesma forma que artistas tiveram um papel histórico e decisivo na luta contra o apartheid sul-africano, recusando-se a tocar em Sun City, artistas de todo o mundo juntam-se neste momento histórico ao boicote cultural a Israel”, acrescentam.
Este não é o primeiro apelo que é feito ao representante de Portugal no Festival Eurovisão da Canção da canção para que boicote o concurso.
Ainda este mês, o músico britânico Roger Waters, um dos fundadores dos Pink Floyd, dirigiu uma carta aberta a Conan Osíris, e aos outros finalistas deste ano, na qual revelava que tinha escrito “há alguns dias”, uma carta particular ao “jovem e talentoso cantor português”.
Na carta, Roger Waters afirmava ter ouvido a música “Telemóveis”, que Conan Osíris vai levar à Eurovisão, e obteve uma tradução da letra, “bem profunda”, que era “sobre usar o telemóvel dele para fazer perguntas sobre a vida, a morte e o amor”.
“Então, escrevi-lhe e sugeri-lhe que tinha a oportunidade de falar pela vida, sobre a morte e também pelos direitos humanos, sobre os erros humanos. Como? De pé, lado a lado com seus irmãos e irmãs oprimidos na Palestina. Ele pode demonstrar solidariedade aos 189 manifestantes desarmados mortos a tiros por atiradores de Israel em Gaza no ano passado, incluindo pelo menos 35 crianças”, disse o músico.
Roger Waters considera que, entre os 42 finalistas da Eurovisão, o representante português é aquele que tem “amor suficiente no coração para se erguer e fazer a diferença”, ao “defender o lado certo da história”, bastando-lhe, para isso, “fazer a coisa certa” e ser "o tal".
Até hoje, Conan Osíris não respondeu ao apelo de Roger Waters. Numa entrevista a um canal de televisão israelita, quando questionado sobre se era verdade que Roger Waters lhe tinha enviado uma carta Conan Osíris respondeu: “Bem, é o que se vê”. De acordo com o regulamento do concurso, os concorrentes não podem tomar posições políticas, correndo o risco de serem desclassificados.
Antes de Roger Waters, no início de março, já o Comité de Solidariedade com a Palestina, o SOS Racismo e as Panteras Rosa tinham apelado a Conan Osíris para não ir a Telavive representar Portugal, em solidariedade com artistas palestinianos.
Este ano, 41 países disputam o Festival Eurovisão da Canção. O representante de Portugal atua na primeira semifinal, marcada para 14 de maio. A segunda final decorre a 16 de maio e a final está marcada para dia 18 do mesmo mês.
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