"Vocês estão prontos para o rock’n’roll?", perguntou Legendary Tigerman no seu concerto no MEO Kalorama, mas duas horas antes os ingleses dos The Lathums já tinham proposto um pertinente aquecimento. O grupo de Manchester liderado pelo vocalista e guitarrista Alex Moore, apesar de começar o concerto a meio da tarde, já apanhou um público bastante composto, que reagiu de forma entusiástica enquanto a banda apresentava canções do seu único álbum, “How Beautiful Life Can Be” (2021), e atestava o vigor e a longevidade do formato baixo/guitarra/bateria.
Já The Legendary Tigerman - Paulo Furtado é o mais bem-sucedido artista português a evocar e retrabalhar imaginários do rock anglo-saxónico - variara um pouco na fórmula (um saxofone em vez de uma segunda guitarra), fazendo igualmente um concerto irrepreensível para os fãs do rei que (quase) se foi (no meio do pop/rap reinante no “mainstream”), mas nunca esquecido, como diria Neil Young. Caso não fossem figurar entre os seus hinos canções como “Fix of Rock’n’Roll” e “21st Century Rock 'n' Roll”, que fecharam o alinhamento– quando o músico se entrega, literalmente, aos fãs enquanto lhes cede o microfone para gritarem “rock’n’roll!”.
Neste mesmo espírito, o palco MEO recebeu a grande atração da noite – os Artic Monkeys, claro. Fiel ao que sempre fizeram, após a abertura cadenciada com a mítica “Do I Wanna Know?”, dispararam os seus mísseis de dois, três minutos, com velocidade, energia e adrenalina no melhor espírito de urgência de uma espécie de punk/indie.
Nas véspera do lançamento do novo álbum, “The Car”, previsto para outubro e do qual o grupo britânico tocou “I Ain't Quite Where I Think I Am”, o foco, para alegria dos fãs, foi o mega laureado “AM”, de 2013 – de onde saiu não só a já referida faixa de abertura como as duas que encerraram o encore – “Arabelle” e “R U Mine?”.
O alinhamento foi recheado de canções do tempo que eram muito jovens enquanto atingiam a fama mundial com os álbuns “Whatever People Say I Am, That's What I'm Not”, de 2006, e “Favourite Worst Nightmare”, lançado um ano depois. Rescaldo feito, agora é aguardar pelo novo trabalho.
Já no palco Futura, o grande destaque foi, claro, Róisín Murphy. A musa dos Moloko contrastou as trocas constantes de figurinos esdrúxulos com a segurança absoluta com que parecia dominar o mundo ao seu redor. Entrando em cena com uma mão no bolso, como se estivesse a chegar despreocupadamente a uma festa, Murphy trouxe uma performance na qual o seu olhar estóico, praticamente nunca sorridente e sem necessitar de estar a pedir atenção para a sua figura magnética, era contraposto ocasionalmente por “coreografias” que pareciam ao mesmo tempo ensaiadas e despretensiosas.
Ajudou à festa, claro, que o alinhamento se tenha concentrado parcialmente nos Moloko – onde alguns dos maiores clássicos da banda (“The Time Is Now”, “Cannot Contain This”, “Sing It Back” e a estupenda “Forever More”) apareceram recriados através de uma forte base eletrónica e contra a qual, ocasionalmente, a bela voz de Murphy tinha de lutar – nem sempre levando a melhor.
Também passaram pelo Futura as irmãs Catarina e Margarida Falcão – as líderes das Golden Slumbers. Entre o álbum “I Love You, Crystal”, lançado no início do ano, e o antigo, “The New Messiah”, de 2016, as cantoras e guitarristas, cuja música surge fortemente enquadrada no universo da indie folk anglo-saxónica, tocaram num fim de tarde cuja amenidade parecia sintonizar-se com as suas leves canções.
Este sábado, dia 3 de setembro, sobem ao palco Nick Cave e os seus Bad Seeds e nomes como Ornatos Violeta, Peaches, Disclosure ou Chet Faker, coroando um dos grandes cartazes alternativos deste verão.
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