“É um cartoon e eu acho que devemos levar a sério essa autonomia do que é o humor e o humor sobre a atualidade política nacional e internacional”, afirmou o governante, ao ser questionado pelos jornalistas sobre a animação polémica.

Pedro Adão e Silva, que falava em Vila Viçosa, no distrito de Évora, insistiu que “o humor e o cartoon deve ser um espaço que deve gozar de particular autonomia e de não interferência editorial”.

O cartoon, da autoria de Cristina Sampaio, colaboradora do coletivo Spam Cartoon, que tem uma rubrica semanal na RTP, chama-se “Carreira de tiro” e mostra um polícia a atirar ao alvo com cada vez mais intensidade. No final, mostra os alvos, que foram escurecendo à medida da agressividade do polícia, servindo de metáfora ao tema do racismo nas forças de segurança (pode ser visto aqui).

Nas declarações aos jornalistas, o titular da pasta da Cultura, que tutela a RTP, frisou que existem “muitos exemplos recentes, trágicos” em que se fez uma discussão sobre “os limites do humor e até a forma como esses limites do humor devem ser tolerados”.

“Surpreendo-me sempre que muitos daqueles que defendem a liberdade do humor e do cartoon numas determinadas matérias e, depois, noutras, já pensem o contrário”, sublinhou.

Assinalando que esta rubrica de ‘Cartoon’ já “existe há muito tempo no espaço da RTP”, o ministro lembrou que o autor da animação “já reconheceu que aquele cartoon é sobre França” e os acontecimentos da semana passada naquele país.

“Não vale a pena transferir aquilo que é a realidade francesa da semana passada para a realidade portuguesa. Acho que essa importação não serve a ninguém e não vale a pena forçar essa interpretação”, acrescentou.

No sábado, o Sindicato Nacional da Carreira de Chefes (SNCC) da PSP anunciou que apresentou uma queixa-crime contra os autores do ‘cartoon’ e também contra a RTP por tê-lo emitido, considerando que “há, inequivocamente, uma intenção de vilipendiar todos os polícias, retratando-os como xenófobos e racistas”.

Contactado pela Lusa, o ilustrador André Carrilho, cofundador, juntamente com João Paulo Cotrim, do Spam Cartoon - responsável pelo cartoon em questão -, considerou que a queixa “não faz sentido”, uma vez que o cartoon "não tem nada a ver com a PSP nem com a realidade portuguesa".

“Nós trabalhamos para a RTP desde 2017 e o cartoon é sempre feito num contexto de atualidade nacional e internacional, neste caso é internacional. Tem a ver com a ocorrência em França, da morte de um jovem francês às mãos da polícia que depois deu origem a vários tumultos pelo país inteiro”, explicou André Carrilho.

Por sua vez, fonte oficial da RTP disse à Lusa que “o Spam Cartoon é um exercício de opinião livre sobre a atualidade nacional e internacional que a RTP acolhe desde 2017”, sendo da autoria de “alguns dos mais reconhecidos cartoonistas portugueses”.

“Em nenhuma circunstância serviu para instigar à violência contra quem quer que seja. Os valores da liberdade de expressão e de opinião são basilares da democracia e do serviço público da RTP”, salientou o canal de televisão.

Com críticas ao cartoon, o PSD já questionou o Conselho de Administração da RTP, o CDS-PP criticou o ministro da Administração Interna por considerar que não defendeu a honra das forças policiais e o Chega propôs a audição no parlamento do canal público e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).