Após termos assistido à antestreia do documentário "Road to Extinction" dos Moonspell, onde é retratada toda a produção do seu novo álbum, "Extinct", foi com agrado que seguimos a rota para o 16º concerto desta sua nova digressão, "Road to Extinction", na última sexta-feira, no Coliseu dos Recreios.

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Apesar de a banda portuguesa não precisar de apoio para atrair público aos seus concertos, graças à sua vasta legião de fãs, atuaram duas bandas na primeira parte deste concerto, começando em português com os Bizarra Locomotiva. Ora, sem grandes desenvolvimentos, podemos apenas dizer que a designação encaixa na perfeição.

Numa atuação completamente excessiva, onde o som obrigava o público ao uso de tampões para os ouvidos e o chão estremecia como nunca se viu, a postura em palco do vocalista, Rui Sidónio, foi também facilmente associada ao nome da banda.

Com uma atuação de ritmo non-stop, não tardou muito para os portugueses abandonarem o palco sem que um "obrigado" ou "boa noite" se tivesse ouvido das suas bocas, deixando-nos com a sensação de que a diversidade não parecia fazer parte do seu conceito musical. "Isto foi um bocado repetitivo. Parece que estive a ouvir a mesma música este tempo todo", ouvia-se um espectador comentar.

No entanto, e para nossa alegria, os gregos Septic Flesh subiram a fasquia numa porção considerável. Sucessos como "A Great Mass of Death" ou "The Vampire from Nazareth" levaram o público ao rubro, preenchendo todo o recinto numa onda negra que reagiu aos primeiros acordes. De postura robusta, foi com bastante simpatia que Spiros Antoniou, vocalista gutural da banda, se dirigiu ao público português e agradeceu por diversas vezes pela colaboração.

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Na despedida, os gregos celebraram com "Prometheus" e dedicaram o tema aos Moonspell e ao público presente: "Esta é a nossa última música e queremos dedicá-la aos nossos irmãos de Portugal, os Moonspell, e por fim, esta música é também dedicada a vocês!".

E foi com a partida dos Septic Flesh que começou a mudança de palco para receber os aguardados Moonspell que, pontualmente, surgiram num cenário bastante diferente do anterior, havendo direito à imagem de um orgão clérigo nas teclas e à estrutura óssea de algo parecido a um carneiro na bateria. No entanto, nem todo o cenário rígido diminuiu a empatia do grupo com o público português, demonstrando desde o início as saudades que sentia de estar em casa: "Boa noite, estamos finalmente em casa! Estamos em Lisboa, sejam bem vindos!", saudava o vocalista e líder do grupo, Fernando Ribeiro.

Mas se a casa estava cheia, foi com a sua chegada que ficou completamente lotada ao fazer com que os mais persistentes desistissem do balcão do bar, ou do vício do tabaco, regressando à sala para ouvir os Moonspell.

Desta forma, foi sem grandes surpresas que a banda portuguesa deu início ao seu espetáculo onde o disco "Extinct" foi a estrela da noite. "O orgulho que temos neste novo álbum é o que nos faz tocar todas estas músicas novas", declarava o vocalista numa das diversas vezes em que se dirigiu ao público para expressar as emoções do grupo.

"Extinct" e "The Last of Us" foram duas das novas faixas reproduzidas neste concerto e que levaram o público ao rubro perante a perícia musical do grupo, onde não havia uma nota que falhasse.

Contudo, o sentimento parecia ser mútuo, uma vez que Fernando Ribeiro não se fartou de ressalvar o amor nutrido pelo público português: "Não houve um dia sem pensar como Lisboa iria ser! É um prazer voltar ao nosso país. Estamos a fazer 23 anos de carreira e vamos ter muitas viagens ao passado nesta noite. A primeira recua a 1996 com 'Irreligious'", anunciava o líder do grupo, levando-nos numa viagem ao primeiro dos clássicos da noite.

Mas como Portugal é, obviamente, especial, muitas foram as surpresas dos Moonspell neste concerto, trazendo ao palco a espanhola Mariangela Demurtas para a faixa "Raven Claws", bem como convidando o vocalista dos Bizarra Locomotiva para a faixa "Em Nome do Medo" onde, uma vez mais, Rui Sidónio fez-se notar pelas piores razões, tendo desaparecido do palco sem qualquer palavra: "Já se foi embora, e nem ficou para agradecer! Grande pessoa, grande banda, um feitio complicado", desabafava o vocalista dos Moonspell após a saída inesperada de Rui Sidónio.

E foi quase no fim que os Moonspell decidiram celebrar o 20º aniversário do seu álbum "Wolfheart", levando todo o público a uma mudança de ritmo para um som festivo onde todos dançaram ao som da banda.

Contudo, após muita música, muitos solos de guitarra, muito suor e excitação, foi com alguma acalmia que surgiu mais um dos discursos de Fernando Ribeiro, o último a preceder a despedida: "Vou fazer um discurso. Sei que estão fartos de me ouvir e eu também! Este já é o nosso 16º concerto desta tour e tem sido sem parar! Mas desde sempre eu disse que, em primeiro lugar, temos de agradecer aos nossos portugueses. E vir direto de Madrid, e puder ver este mar de portugueses é completamente inspirador. Obrigado por terem colocado o nosso disco lá no topo! Porque mesmo quando os media não queriam saber de nós, foram vocês, os fãs, que puxaram por nós. Obrigado", proferia emocionado sendo seguido pelo grito uníssono da plateia que aclamada pela banda portuguesa em puro culto.

Por fim, os Moonspell encerraram a noite com a faixa "Full Moon Madness" enquanto o público acompanhava eufórico e completamente dentro do ambiente teatral em palco com todos os jatos de fumo sincronizados e a chuva de esferovite, deixando-nos com vontade de assistir a mais um graças a todo o ambiente por estes criado. Pois num espetáculo não basta ser-se músico, é preciso ser-se artista, e os Moonspell são um exemplo disso.

Fotografia: Ana Castro