Vera Lynn, cujo tema "We'll Meet Again" se tornou um hino de esperança e resiliência durante a Segunda Guerra Mundial, morreu na madrugada desta quinta-feira, dia 18 de junho, aos 103 anos.

Em comunicado citado pelo The Guardian, a família confirmou a "triste notícia" da morte "de uma das artistas mais adoradas do Reino Unido". A cantora morreu na sua casa, em East Sussex.

Voz de vários sucessos, Vera Lynn gravou nove álbuns ao longo da carreira. Em 1939, a artista gravou o seu maior êxito, "We'll Meet Again", que se tornou no hino da despedida antes da frente de combate.

Em maio passado, quando se assinalaram os 75 anos do final do conflito, apareceu publicamente pela última vez, para recordar "os valentes rapazes que se sacrificaram por todos", garantindo a vitória das forças aliadas e da democracia.

Vera Lynn

Nascida em Londres, no East Ham, em 1917, Lynn iniciou a carreira de cantora aos 18 anos, com as orquestras da época, e publicou o seu primeiro disco em 1936, "Up the Wooden Hill to Bedfordshire", quando ainda trabalhava como escriturária numa companhia de navegação.

O início do conflito levou-a até aos abrigos, onde cantava durante os ataques aéreos nazis, e, depois, para as zonas de combate, onde atuou até ao armistício, em 1945, ganhando o nome de "namorada das Forças Armadas".

"As minhas canções recordavam aos rapazes os motivos por que lutavam; por questões pessoais que lhes eram caras, não por teorias políticas", disse em maio passado, recordando a época em que atuava nas frentes de batalha da Europa, da Ásia (Índia e Myanmar/Birmânia) e do Norte de África (Egito).

Antes completar os 103 anos, no passado dia 20 de março, Lynn desafiou a população a assumir o mesmo espírito de resistência, tido durante a guerra, para responder à COVID-19. A rainha Isabel II acabou por a citar, e ao seu 'hino' "We will meet again" ("Votaremos a encontrar-nos"), na comunicação que fez ao país, durante o confinamento.

Após a II Guerra Mundial, Vera Lynn manteve a atividade como cantora, somando apresentações nos palcos, na rádio e na televisão britânicos, e publicou livros de memórias como "Some Sunny Day". Foi também uma constante defensora dos veteranos de guerra e dos seus direitos.

"Deixaram as suas famílias e os seus lares para lutarem pela nossa liberdade. Foram muitos os que perderam a vida para proteger as nossas vidas e os nossos direitos", recordou no passado mês de maio.

Vera Lynn é a cantora presente há mais tempo na lista dos 100 álbuns mais vendidos no Reino Unido, com a sua última coletânea de êxitos a somar 40 anos ininterruptos no ranking, onde, em maio, atingiu a 30.ª posição.

Segundo a revista NME, em 2017, Vera Lynn tornou-se na primeira artista com 100 anos a lançar um disco. "Vera Lynn 100" foi lançado há três anos, a 17 de março de 2017, três dias antes de completar o centenário. O disco é composto por novas versões reorquestradas das suas principais canções, mantendo as vozes da gravação original.

Para o disco, a britânica colaborou com Alfie Boe, Alexander Armstrong e Aled Jones. "É maravilhoso voltar a ouvir as minhas músicas e é maravilhoso ouvi-las com uma apresentação completamente diferente", confessou a cantora em entrevista ao jornal The Guardian.

Em setembro de 2009, uma editora compilou os maiores sucessos da artista e lançou o álbum "We'll meet again - The very best of Vera Lynn". O disco especial conquistou o primeiro lugar do top britânico.

Em maio deste anos, após o discurso da rainha Isabel II que assinalou os 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, os britânicos juntaram-se, a partir de suas casas, num canto coletivo do hino “We'll Meet Again”, de Vera Lynn, que hoje se pode aplicar ao afastamento entre familiares e amigos, devido à pandemia de COVID-19.

Ao longo da sua vida, Vera Lynn esteve sempre envolvida projetos de solidariedade, ligados à luta contra o cancro ou o apoio a crianças necessitadas. A artista foi várias vezes condecorada, contando com uma medalha da II Guerra Mundial.

Lynn era Oficial da Ordem do Império Britânico, desde 1969, e Dama da Coroa, desde 1975.

O capitão Tom Moore, o veterano recentemente distinguido por ter conseguido reunir 33 milhões de libras para o serviço nacional de saúde do Reino Unido, reagiu à morte de Vera Lynn, através do Twitter, garantindo que a cantora teve um enorme impacto na sua vida, quando estava na guerra, e que permaneceu importante para si, ao longo de todos estes anos.