“Este é um museu vivo, em cada beco, em cada zinco e em cada pessoa que cruza estas ruas. (…) É um espaço que concentra muita da vida e da história da cidade de Maputo”, explica à Lusa Ivan laranjeira, diretor do museu.
O museu está instalado num bairro de importância histórica em Maputo, um local que carrega o peso de ter albergado personalidades que levaram o nome de Moçambique para o mundo, entre os quais o futebolista Eusébio da Silva, bem como os presidentes Samora Machel e Joaquim Chissano.
“Nós entendemos o museu como o bairro, no seu todo”, acrescenta Ivan laranjeira.
A partir de um simples bairro periférico construído, primeiro, para “servir” a administração colonial que vivia no centro da capital, Mafalala tornou-se hoje um retrato fiel da diversidade cultural típica de Moçambique, um espaço onde várias etnias e religiões se fundem harmonicamente.
São cerca de 20 mil pessoas de quase todo o país que partilham diariamente os estreitos becos e ruelas de uma urbanização informal à base de zinco, mas que para muitos foi o “centro da resistência cultural” à administração colonial portuguesa em Maputo.
Esta é riqueza patrimonial que o museu que Ivan Laranjeira dirige procura recuperar, num contexto em que a imagem negativa, associada aos altos índices de criminalidade e ao consumo de drogas entre a juventude, continua a assombrar o histórico bairro que deu à luz figuras como os escritores José Craveirinha e Noémia de Sousa.
“A Mafalala foi sempre identificada com estes aspetos negativos e isto esconde todo o valor e riqueza culturais presentes neste espaço. O museu vem precisamente ativar este aspeto positivo e traz também um impacto positivo para a comunidade, que tem a ver com a autoestima e orgulho”, observa Ivan Laranjeira.
Hoje, na Mafalala, há outras opções para os milhares de jovens que lá vivem, seja em iniciativas ligadas à arte, promovidas pelo museu, bem como em negócios informais de quem procura aproveitar a azáfama que ganha forma em volta do museu, principalmente em dias de espetáculos, exposições ou outras iniciativas culturais.
“Eu sou da província de Nampula e escolhi viver aqui neste bairro quando cheguei a Maputo porque ele carrega valores socioculturais”, explicou Issufo Ali, um jovem de 29 anos que vende vassouras na rua de Goa, entre as principais do bairro e que vai dar acesso ao Museu.
O Museu Mafalala foi inaugurado em junho de 2019 e está orçado em cerca de 200 mil euros, financiados pela União Europeia e pela Cooperação Alemã.
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