“Sou o Miroca Paris, nasci em Cabo Verde e vivo em Portugal há muitos anos. Considero-me mais português do que cabo-verdiano. Gosto muito da música portuguesa, adoro a música de Cabo Verde, toco a música de Cabo Verde, canto em crioulo, viajo no mundo inteiro, levo as comunidades todas comigo, não só Cabo Verde, levo Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe. Onde eu estou, os meus colegas também estão”. É assim que se apresenta à Lusa, antes de uma atuação no Palco Lusofónica do Womex.

Chegou a Portugal, “de guitarra às costas”, com 17 anos e arranjou logo trabalho a tocar num bar, onde captou a atenção de Sara Tavares, com quem tocou durante um ano.

“Logo depois veio a Cesária [Évora]”.

Foram 11 anos com a ‘diva dos pés descalços’, como gosta de a lembrar, que sempre lhe “deu um empurrãozinho” para seguir o seu caminho na música.

O multi-instrumentista, que começou na bateria, mas cedo se agarrou também à guitarra e à percussão, ganhou voz com “D’Alma”, o seu primeiro álbum a solo.

Quando faz contas à vida, põe aquele a ter sido lançado em 2018, embora tenha saído no final de 2017. “Como faço anos em dezembro, foi para me dar um presente”, brinca.

“A sensação que eu tenho e também o que eu quero com este disco, o que quis atingir com o disco, foi o que eu atingi. O disco já tem três anos, queria chegar onde nunca tinha chegado a tocar percussão. Queria atingir outras pessoas, outros mercados, tocar em outros festivais sem ser no mundo lusófono, queria ir um pouquinho além, como a Cesária fez”.

Tem planeado para 5 de novembro o lançamento de um EP com temas gravados ao vivo em Varsóvia, um bocadinho “de ar” até ao próximo álbum, que deve sair dentro de seis meses.

A sua música “tem cor, tem ritmo, tem ingredientes de várias outras culturas” e “muita melodia, muita boa energia”, descreve.

O próximo trabalho terá “menos do mesmo”, porque resolveu “procurar mais”.

“Não existem fórmulas, mas existem maneiras. Vai ter muito mais ingredientes, mais para além do que a música de Cabo Verde já tem, que já é um 'cocktail' de ritmos misturados. Resolvi pôr um pouquinho mais ainda. Vai ser muito gostoso de ouvir”, garante.

Nas suas atuações ao vivo, como a do Palco Lusofónica do Womex, no Teatro Nacional de São João, no Porto, promete “arranjos completamente frescos, 'na onda'”.

“Estamos a vender fruta da época”, realça.

As experiências que teve de colaboração com grandes nomes da música mundial foram “todas boas, no momento certo”.

A mais recente foi com a cantora pop Madonna, que considera “uma pessoa muito inteligente, com um olhar muito à frente, que sabe o que faz a cada segundo, sabe o que diz”.

Com ela, voltou a tocar a “Sodade” de Cesária Évora. “É um tema que me persegue”, diz.

É também por isso que diz não querer “chegar ao auge” que é ter “um 'single' bem conseguido”, porque não é “de números, de quantidade”, mas antes “de qualidade”.

“Vou ser sincero: já tenho idade e experiência para poder dizer isso. Não quero ter um tema famoso. Porque parece que os outros depois não passam. E parece que o pessoal vai para o concerto só para ouvir aquele tema. Depois, todos têm de tentar ser melhores. Quero que todos sejam um pouquinho. Quero levar todos comigo”, esclarece.

Mas a rejeição desse “auge” não se confunde com falta de ambição.

A vontade de “ir um pouquinho além, como a Cesária fez”, fá-lo também dar “graças a Deus” pelo “facto de o Womex, pela primeira vez, passar por Portugal”, este ano, no Porto, e com regresso marcado para o próximo ano, em Lisboa.

Miroca Paris sabe que o caminho é partilhado: “Não estamos aqui sozinhos, mas a representar a malta toda. Uma porta aberta para nós, será uma janela para o próximo. Vamos abrindo caminho para outros, e, ao estarmos aqui, estamos a representar todos”.

A feira internacional de música Womex decorre no Porto até domingo, com mais de 200 'stands', com representantes de mais de 70 países, e atuações de 60 artistas.