De acordo com o grupo editorial Penguin Random House, surgiram “vários pedidos de eventos e apresentações” e está prevista uma na sexta-feira, “em resposta ao convite da Fundação José Saramago, que se disponibilizou para acolher a sessão” e que assegurará "as medidas de segurança necessárias ao normal funcionamento do evento".

O primeiro lançamento do livro aconteceu na sexta-feira passada em Lisboa, mas foi interrompido por um protesto, que Lúcia Vicente, em declarações à Lusa, considerou “pura censura” e o grupo editorial classificou como “uma ameaça à liberdade de expressão”.

Em comunicado divulgado no sábado, a editora relatou que na livraria onde decorria a apresentação irrompeu “um protesto intimidatório, de megafone na mão”, com o objetivo de “silenciar as vozes da autora e das apresentadoras" e "confrontando diretamente o público que assistia”.

Segundo a autora, foi contactada a Esquadra do Rato, cujos agentes identificaram os manifestantes, e está ainda a ser ponderada uma queixa no Ministério Público.

Questionada hoje pela Lusa, fonte da Penguin Random House disse que o livro está a ter mais procura nas livrarias, houve rutura temporária de ‘stock’, estando ainda a ser avaliada uma segunda edição.

“No Meu Bairro” reúne 12 pequenas histórias de ficção em rima, protagonizadas por crianças que falam sobre as suas vidas, sobre racismo, identidade de género, religião, 'bullying' e ativismo.

Em algumas das histórias, Lúcia Vicente recorreu à linguagem neutra ELU, utilizada sobretudo pela comunidade LGBTQI+, na qual os pronomes pessoais ‘ele’ e ‘ela’ se transformam em ‘elu’ ou ‘elus’, no singular e no plural, e as conjugações verbais e algumas palavras terminam, por exemplo, em ‘es’, ‘us’ ou ‘ies’.

Em entrevista na semana passada à agência Lusa, Lúcia Vicente disse que a utilização daquela linguagem “é uma proposta, é uma forma de abrir a discussão”, incluindo pais, professores, educadores e os mais novos.

“Quer eu quer o Tiago [o ilustrador] não vamos obrigar ninguém, obviamente, a falar de forma neutra. Nós próprios não o conseguimos fazer ainda por uma questão de hábito. Tal como muitas coisas na nossa sociedade, seja ela o machismo, seja ela o racismo, são questões estruturais. Um idioma e a linguagem passam também por uma questão estrutural”, sublinhou.

Para a autora, “há muita resistência ao que é novo e é diferente”.

“Há muita resistência ao que inclui todas as pessoas da nossa sociedade, tornar visíveis as pessoas que são invisíveis perante os nossos olhos, porque são diferentes, porque nos mostram um caminho novo a nível cultural e a nível social. É mais fácil continuar a apagá-las do que aceitar que elas existem, e se elas existem é porque é preciso mudar alguma coisa na nossa sociedade. E isso dá muito trabalho”, afirmou.

A edição de “No Meu Bairro” conta com apoio da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género e da AMPLOS – Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género.