A tarde iniciou-se com White Haus, o projeto a solo de João Vieira dos X-Wife, a abrir o Palco Super Bock, e com o americano Cass McCombs, a fazer as honras de abertura do Palco NOS. No entanto, seria apenas pelas oito da noite que se contaria, pela primeira vez, as linhas da história daquela noite.
Sentado ao centro, ao piano, e acompanhado por uma banda que nunca teve menos de dez elementos em palco, Brian Wilson encantou, emocionou e desenterrou memórias. Ainda antes de se ouvir, na íntegra, “Pet Sounds”, o décimo disco da banda californiana que incendiou os anos sessenta e que comemora este ano cinquenta primaveras, houve tempo para êxitos que todos conhecemos como “I Get Around”. De voz trémula, os 73 anos de Brian Wilson não escondem algumas dificuldades. O vento não ajudou, muito menos o ruído de um drone a sobrevoar o público. Vale a pena a captação de imagens do público quando lhe diminuem a experiência do espetáculo? Os que foram lentamente abandonando o palco NOS - e foram muitos - perderam as muito dançadas “Good Vibrations”, “Barbara Ann”, “Surfin' U.S.A.” e “Fun, Fun, Fun”. Escreveu-se uma página na história do festival.
Meia hora antes do início do concerto e já eram muitos os que se movimentavam junto ao Palco NOS na esperança de conseguir o melhor lugar. De saxofone em mãos, olhar penetrante, mini saia de cabedal e algo semelhante a uma coroa de louros na cabeça, imperadora Polly Jean Harvey entra em palco acompanhada da sua banda, que integra elementos como John Parish e Mick Harvey. Em silêncio, misto de respeito e ainda pouca familiaridade com os temas do mais recente álbum, “The Hope Six Demolition Project”, a noite iniciou-se com “Chain of Keys”, seguindo-se “Ministry of Defense”, “Community of Hope”, “Line In The Sand” e “Orange Monkey”. Temas revestidos de uma forte componente política e que resultam de uma série de viagens que fez, acompanhada do fotografo Seamus Murphy, entre 2011 e 2014, espécie de diário de passagens pelo Kosovo, Afeganistão e Washington D.C.
“Let England Shake” e regressamos ao disco de 2011, com o mesmo nome, que terá reunido consenso à volta da artista britânica como uma das vozes femininas mais sensualmente (e porque não sexualmente) políticas que os anos 90 viram nascer e a quem o novo milénio se rendeu. Com passagens ainda por “The Hope Six...”, como “The Wheel”, “Ministry of Social” ou "River Anacostia" a fechar o concerto, sem quebrar a linha do mesmo, viajamos pela primeira vez até uma outra PJ de quem também temos saudades. “50ft Queenie”, do raivosamente sexual “Rid of Me”, música que já não integrava as setlists da artista desde 2004, “Down By The Water”, interrompida por um sorriso despertado por um tubarão insuflável que nadava as primeiras filas - “little fish, big fish, swimming in the water”, já diz o refrão - e “To Bring You My Love”, do álbum com o mesmo nome: o público responde com devoção. Ainda que a primeira vez que se dirigiu ao público tenha vindo já perto do final, com um “obrigada”, não faltou nada por dizer. Nós é que lhe agradecemos.
Dos anos 90 para os anos 90, saltamos até aos Mudhoney, que ofereceram ao público presente no palco Pitchfork um concerto rock duro onde não faltou a clássica “Touch Me I’m Sick”, eles que ressuscitaram a flanela ao segundo dia. Hoje será a vez de Air, Moderat e, a encerrar o festival, Ty Segall and the Mugger.
Fotos: Hugo Lima
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