A abertura dos portões deu-se numa tarde de bastante calor, mas muito agradável devido aos ares frescos vindos da maresia da bela praia de Matosinhos, que fica a poucos minutos de caminhada do Parque da Cidade do Porto, onde decorre o NOS Primavera Sound.

No palco Cupra a banda nova-iorquina DIIV, que bebe muito da fonte do shoegaze e do indie rock, chamou a atenção de toda a gente que ainda chegava para as principais atuações da noite. A performance foi muito competente, direta e impressionou ainda mais devido à densa 'timbragem' das guitarras e do baixo, com excelente configuração.

Pouco depois foi a vez de Kim Gordon subir ao palco com a sua banda composta por mulheres: a guitarrista Sarah Register, a baixista Camilla Charlesworth e a baterista Madi Vogt.

O trio arrancou com o tema "Sketch Artist" e logo, ainda entre aplausos e gritos de regozijo, apresentaram a excelente "Air BnB", do álbum "No Home Record" (de 2019). Esse disco foi produzido pelo engenheiro de som Justin Raisen, que Gordon conheceu precisamente num Air Bnb.

O som da norte-americana continua noise, como apreciadores dos Sonic Youth (grupo de pós-punk experimental e rock alternativo do qual ela fez parte algumas décadas da sua vida) estão acostumados. Só que agora, no seu trabalho solo, há muitas pitadas de electro-rock e industrial.

Temas como "Paprika Pony", "Murdered Out", "Don't Play It" e "Get Yr Life Back" tiveram uma resposta muito vibrante do público. Essa última carrega um forte discurso feminista e anticapitalista: os primeiros versos dizem: "The end of capitalism, winners and losers, 'Louis the Fifth', lyrical waxing... Jumping off a cliff." (O fim do capitalismo, vencedores e perdedores, 'Louis the Fifth', depilação lírica... Saltando de um penhasco).

O concerto foi encerrado com "Grass Jeans", que lembra muito o baixo e bateria dos Joy Division.

A seguir, foi altura de sair e caminhar a passos rápidos para procurar um bom lugar para ver Nick Cave and the Bad Seeds.

Nick Cave and The Bad Seeds
créditos: José Coelho/Lusa

O australiano chegou com a sua banda pontualmente, além de trazer ao Porto o seu ar 'vampiresco' de sempre. Abriu com "Get Ready For Love" e literalmente deixou os milhares presentes no palco principal preparados para uma intensidade emotiva de alto grau. Dedicou "O Children" às crianças, palavra essa que se gabou de falar num português após aprovação massiva do público presente.

Houve momentos de maior comoção nos temas "Waiting For You", "The Mercy Seat" e "City of Refuge", com toda a gente a cantar.

O fecho ficou por conta da aclamada "White Elephant", que obviamente colocou o público a não aceitar outra coisa que não fosse um regresso para o encore. E, assim, "Into My Arms", "Vortex" e "Ghosteen Speaks" concluíram a atuação esplendorosa de Nick Cave e dos seus Bad Seeds.

A noite contou ainda com os também australianos Tame Impala para encerrar o primeiro dia do evento.

NOS PRIMAVERA SOUND 2022
créditos: Stefani Costa

Vale a pena lembrar que que se deslocar ao festival recorrendo a transportes públicos tem à disposição o metro e os autocarros. A estação mais próxima do Parque da Cidade é a de Matosinhos Sul, que fica na linha azul (em funcionamento todos os dias entre as 6h e a 01h). Quem vier das linhas vermelha, verde, roxa e laranja deverá fazer transbordo na estação de Senhora da Hora, já quem vier da linha amarela deverá mudar na estação da Trindade. Os autocarros que vão para perto do recinto são o 1M (a partir dos Aliados), o 200 e o 502 (do Bolhão), o 203 (do Marquês), o 205 (de Campanhã) e o 500 (da Praça da Liberdade). Haverá autocarros diretos da STCP entre a Praça da Cidade do Salvador, junto ao Parque da Cidade, e os Aliados entre a 1h e as 7h das madrugadas do evento.

No recinto, além dos cinco palcos, há um espaço de restauração e o Primavera Market com bancas de 18 marcas de moda, artesanato urbano e estúdio de tatuagens.

O NOS Primavera Sound decorre até à madrugada de domingo.