A exposição, que é inaugurada no sábado no Centro de Arte Contemporânea - Casa da Cerca, em Almada, parte de dois livros ilustrados, críticos sobre a Europa, na sua relação "colonial, patriarcal e capitalista" com outros territórios.

Daniela Ortiz "apresenta-se como uma voz radical que critica abertamente a dimensão histórica e contemporânea do racismo e do colonialismo, e que usa o espaço do museu como lugar para desvendar, tornar visível e condenar um sistema que perpetua estas duas realidades", refere a curadora, Filipa Oliveira, na nota de introdução à exposição.

Segundo a Casa da Cerca, a exposição "pretende gerar narrativas visuais e desafiar estereótipos, nos quais conceitos como nacionalidade, colonialismo, racismo e eurocentrismo são explorados numa leitura profundamente crítica".

Um dos livros que servem de inspiração - e dá nome à exposição - foi lançado em 2017 em Espanha e apresenta-se como um alfabeto de colagens, em jeito de álbum para crianças aprenderem a ler, no qual são elencadas realidades criticadas pela autora.

No livro pode ler-se, por exemplo, na entrada da letra "M": "O Mediterrâneo, o mar onde a classe média europeia goza das suas férias é o mesmo mar onde morreram ou desapareceram mais de 50 mil migrantes. O Mediterrâneo é a ferramenta de controlo migratório para a morte".

Na entrada da letra "I": "A Europa irá transformar-se numa ilha na tentativa de nos parar, enquanto nos chama de ‘imigrantes ilegais’. Vão colocar arame farpado à volta do território deles e nós ficaremos a rir do lado de fora quando perceberem que estão encurralados".

A obra de Daniela Ortiz "debruça-se sobre a continuada presença na estrutura da sociedade contemporânea, especialmente na europeia, de um sistema colonialista, e sobre as políticas racistas e de controlo migratório no espaço europeu", sublinha a curadora.

Daniela Ortiz nasceu no Peru em 1985 e vive e trabalha em Barcelona. Expõe com regularidade há cerca de uma década, tendo trabalhado de forma multidisciplinar, com instalação vídeo, cerâmica, colagem e desenho.

A exposição "O ABC da Europa Racista" ficará patente na Casa da Cerca até 20 de outubro.