A opção inverte tendências de algumas edições anteriores, surgidas ao longo dos últimos 400 anos que, para evitarem "o incómodo estrutural desta discrepância", excluíram, "por várias vezes, o 'Colóquio' do conjunto destas novelas", escreve o tradutor Aníbal Fernandes, no prefácio desta edição da Sistema Solar.

Em "O Colóquio dos Cães", Cervantes, "inspirado num diálogo do grego Luciano de Samósata, com animais dotados de racionalidade, dá a dois cães algumas horas de fala e superior entendimento", para abordar "males muito difundidos na sociedade do seu tempo".

Estas 12 ficções curtas, incluindo "O Colóquio dos Cães", foram escritas em épocas diferentes da vida de Cervantes, revistas e sujeitas à forma definitiva, na primeira edição de 1613. Antecedidas no género apenas pelas histórias de "Decameron", de Bocaccio, também se afirmaram como novidade absoluta, no relato curto, como "O engenhoso fidalgo D. Quixote de la Mancha" se afirmou no romance.

"Sou o primeiro a fazer novelas em língua castelhana, porque as muitas novelas que nela andam impressas são todas traduzidas de línguas estrangeiras, e estas são minhas, não imitadas nem furtadas; o meu engenho engendrou-as e pariu-as a minha pena, e vão crescendo nos braços da imprensa", escreveu Cervantes, na apresentação da obra, como recorda a Sistema Solar.