O resultado final será apresentado a 28 de abril de 2020 em Bonn (Alemanha) e deverá ser um dos elementos mais destacados das festividades, que começam esta sexta-feira, do 250º aniversário do nascimento do compositor.
Beethoven tinha começado a trabalhar nesta sinfonia paralelamente à famosa Nona e ao Hino da Alegria, hoje hino da União Europeia.
Mas o compositor abandonou a Décima e quando morreu, aos 57 anos, só tinha escrito algumas notas, esquemas e alguns esboços.
Dois séculos e meio depois, um programa de inteligência artificial analisou primeiro todas as obras do compositor e, depois, graças aos seus algoritmos de tratamento de voz, começou a propor opções para ampliar a partitura.
O projeto foi iniciado pela Deutsche Telekom, com sede em Bonn, a cidade natal do compositor.
Mas, além de uma operação publicitária para o "ano Beethoven", o grupo também quer desenvolver as suas tecnologias, em particular o reconhecimento de voz.
"Assim como a linguagem, a música está composta de pequenas unidades, letras, ou notas, que, quando se combinam, fazem sentido", explica uma porta-voz do grupo à AFP.
Os primeiros ensaios, há alguns meses, foram considerados mecânicos e repetitivos demais, mas as últimas tentativas foram mais convincentes.
"O desenvolvimento [em comparação com os testes anteriores] é impressionante, ainda mais porque o computador ainda tem muito a aprender", disse à AFP Christine Siegert, diretora do departamento de arquivos e pesquisa da Casa Beethoven em Bonn.
Segundo esta especialista em Beethoven, a obra do compositor não ficará "distorcida", porque as criações prévias não fazem parte do projeto "e os fragmentos originais da Décima sinfonia são somente pistas de trabalho limitadas".
Siegert diz-se "convencida" de que o compositor não se teria oposto a este tipo de iniciativa, já que ele mesmo foi um "visionário" no seu tempo.
Mas o compositor e musicólogo britânico Barry Cooper, que tentou completar o primeiro movimento da Décima, tem dúvidas.
"Ouvi um excerto. Não se parecia nada com uma reconstrução convincente do que Beethoven faria, inclusivamente tendo em conta o som computadorizado e a ausência de contraste entre os sons fortes e suaves", explicou Cooper à AFP.
Este professor da Universidade de Manchester, autor de vários livros sobre o compositor, admite, porém, que "há margem para melhorar".
"Em qualquer interpretação da música de Beethoven, existe o risco de distorcer as suas intenções" e, neste caso, o "risco" de contornar o trabalho é ainda maior, afirma. Uma postura partilhada pelo diretor da Orquestra Beethoven de Bonn, Dirk Kaftan.
"Nós, os músicos, estamos divididos sobre esta iniciativa", apontou Kaftan, esta sexta-feira, em Bonn, na inauguração da casa dedicada ao compositor, apontando, no entanto, que a Inteligência Artificial permite descobrir "um novo território".
No passado, houve iniciativas similares com obras de outros grandes músicos, como Gustav Mahler, Johan Bach e Franz Schubert, com resultados variados.
No início de 2019, por exemplo, a gigante chinês Huawei tentou completar a Sinfonia inacabada de Schubert.
Mas, quando as partituras compostas pela chamada aprendizagem de máquina ("machine learning") foram interpretadas pela London Session Orchestra, elas soaram – segundo a imprensa europeia – como a banda sonora de um filme de Hollywood, e não como uma obra do compositor austríaco.
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