A programação do Teatro da Trindade/Fundação Inatel para a próxima temporada, que se inicia no dia 8 de setembro com “O Diário de Anne Frank”, na versão de Frances Goodrich e Albert Hackett, foi hoje apresentada em conferência de imprensa por Diogo Infante, diretor artístico do Trindade, e por Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel.

O espetáculo baseado no diário da jovem judia que viveu durante dois anos escondida com a família num sótão, durante a perseguição Nazi, e acabou por morrer num campo de concentração aos 15 anos, estará em cena até dia 13 de novembro.

Segundo Diogo Infante, para este espetáculo, que tem encenação de Marco Medeiros, foram abertas audições a nível nacional para encontrar dois jovens atores que interpretassem os papeis de Anne Frank e Peter van Pels, a que concorreram mais de 600 candidatos, “superando todas as expectativas”.

O segundo espetáculo, a estrear-se no Teatro da Trindade a 15 de setembro, é “Jesus, o filho”, de Elmano Sancho, que retrata o transtorno “Hikikomori”, o isolamento, a exclusão social e a morte involuntária.

O autor e encenador da peça contou que em 2018 decidiu refletir sobre a família e, assim, nasceu a trilogia “A Sagrada Família”, de que este é o terceiro texto, e a segunda encenação, que se sucede a “José, o Pai” e “Maria, a Mãe”.

Outra novidade desta temporada é o espetáculo “Nuvem”, que põe em cena o texto vencedor da edição deste ano do Prémio Miguel Rovisco – Novos Textos Teatrais, da autoria de Carlos Manuel Rodrigues, uma “peça que agarra o leitor do princípio ao fim” e que é uma espécie de policial, que reflete sobre a essência do artista, explicou Diogo Infante.

Daniel Gorjão, encenador do espetáculo, que estará em palco entre 8 de dezembro e 29 de janeiro, afirmou que este texto de teatro se lê como um romance e que o maior desafio foi conseguir contar a história através de um elenco negro, uma vez que se passa numa ilha remota perto da África do Sul.

“Noite de Reis”, comédia de William Shakespeare, com encenação de Ricardo Neves-Neves, estreia-se a 26 de janeiro, e vai “andar atrás” do termo “Drag”, fixado pelo dramaturgo inglês como acrónimo para “Dressed as Girl”, como explicou o encenador.

“Queremos trabalhar a comédia, zona de enganos e equívocos, dos homens que se vestem de mulheres”, afirmou, acrescentando que se trata também de um espetáculo sobre a música.

“Blasted”, espetáculo de Sarah Kane, de 1995, apresenta-se a partir de 09 de março, encenado por João Telmo, e aborda uma situação vivida por três personagens dentro de um quarto de hotel, rodeado por uma guerra que se trava no exterior.

Um dos atores, Graciano Dias, revelou que quando viu o texto achou a “história extremamente violenta e que parecia não fazer sentido”, mas, entretanto, com a invasão russa da Ucrânia, tornou-se “extremamente atual”.

Uma das apostas para esta temporada é o espetáculo “A peça para dois atores”, de Tennessee Williams, uma produção própria do Teatro da Trindade, que se estreia a 27 de abril, revelou Diogo Infante, confessando que “há 20 anos que guarda esta peça na gaveta” e que sempre imaginou que a faria no Trindade, na altura, “longe de imaginar que hoje estaria aqui”.

Estreada em Londres, em 1967, foi considerada pelo próprio Tennessee Williams como “a mais bonita, desde ‘Um elétrico chamado desejo’”, contou.

Parcialmente autobiográfica, esta peça fala sobre saúde mental e confinamento forçado, “dois temas assustadoramente próximos”, considerou o diretor artístico e encenador do espetáculo.

A última peça da temporada, que estará em cartaz de 25 de maio a 9 de julho, intitula-se “As leis fundamentais da estupidez humana”, cujo texto é retirado da obra satírica “Alegro ma non troppo”, de Carlo Maria Cipolla, aqui encenada por João de Brito.

O encenador tomou conhecimento deste texto quando um amigo lhe ofereceu o livro de Cipolla e propôs então a sua adaptação a teatro.

“É uma sátira à sociedade da altura, final dos anos 1980”, um “texto hilariante, mas que chafurda um bocadinho à volta daquilo que é o mundo”, afirmou.

Este espetáculo contará com música de noiserv, que vai tocar ao vivo, e também com desenho digital, de Vítor Ferreira, ao vivo, “porque o próprio livro é muito gráfico”, acrescentou o encenador.

No Ciclo Mundos, fruto de uma parceria da Fundação Inatel com o Festival Músicas do Mundo de Sines, é esperada, no dia 27 de setembro, uma atuação da banda norte-americana Vicki Kristina Barcelona, que transforma músicas de Tom Waits, apresentando-as com novos arranjos.

A 25 de outubro apresentam-se Zakir Hussain & Niladri Kumar, para um concerto de música clássica indiana, com tablas e cítara.

A fechar o ciclo, a contrabaixista, cantora e compositora Sélène Saint-Aimé atuará com a sua formação em quinteto, num concerto que explora as tradições dos seus ancestrais afrodescendentes.

Diogo Infante anunciou ainda que o teatro criou a quinta-feira Dia do Estudante, em que os estudantes têm direito a bilhete com preço reduzido, extensível a um acompanhante, numa iniciativa apenas aplicável à peça "O Diário de Anne Frank".

Falando sobre os dois anos de pandemia, que impediram uma atividade regular, o diretor artístico do Trindade indicou que, apesar das dificuldades, o balanço é positivo e que foi possível equilibrar as contas.

“Acredito que agora estamos mais bem preparados para o que o futuro nos reserva. Os indicadores de 2022 são bastante positivos: conseguimos recuperar, se não ultrapassar, os números pré-pandemia e 2023 acredito que será de crescimento”, disse.

Diogo Infante revelou ainda que o orçamento para esta temporada é de 400 mil euros, que pressupõe programação, produção e comunicação.

Segundo Francisco Madelino, 80% das receitas da Fundação Inatel provêm da hotelaria, sendo que, atualmente, a fundação está com “19% de reservas acima do período pré-pandemia”, o que permitirá “alavancar novos projetos”.