Com texto, encenação e cenografia de Pedro Gil, “O inesquecível professor” gira em torno de um consagrado professor de teatro que, prestes a reformar-se, acha que o teatro pelo qual se bateu, e que ensinou aos seus alunos, não se cumpriu, e que a única forma de os salvar consiste em fazer tudo para que não optem pelo teatro.

Assim, nas aulas que antecedem o exercício final de curso, o professor, protagonizado por António Fonseca, irá fazer tudo para mostrar aos alunos que estão a fazer tudo mal, convencendo-os de que não têm o que é necessário para serem atores.

Perante as justificações do professor que, a todo o custo, pretende impor a sua verdade a 12 alunos, estes acabam por arranjar outras justificações, galvanizando-se todos para ultrapassarem o problema, considerando-o como um desafio a superar.

E face aos desafios de representação que o professor lhes vai impondo, os alunos acabam por arranjar sempre uma forma positiva de olhar para a opressão que aquele lhes vai impondo.

Na prática, o velho professor, como não consegue convencer os doze alunos de que não têm o que é necessário para serem atores, vai tentando miná-los com essa dúvida.

Chegado ao fim da vida profissional, este professor acha que o seu ideal inicial em relação à carreira não se cumpriu, não lhe restando senão projetar nos mais novos as suas angústias e frustrações. Chega mesmo a tentar convencer os alunos de que a profissão exige muito sofrimento e, por isso, começa a ensaiar o exercício final com quadros em que todos os alunos estão destinados a sofrer.

Como o sofrimento é a razão maior do orgulho de ser ator e a única transversal a toda a profissão, o professor vai tentando assustar os alunos com esta premissa, ao mesmo tempo que estes vão estranhando o espetáculo e o vão confrontando com a verdade que vai vinculando.

No final, os alunos acabam por concordar com a ideia do professor, mas não desistem, continuando a fazer por serem atores.

Sobre este espetáculo, Pedro Gil considera que os argumentos do professor são “falaciosos”, já que este tem “uma agenda”.

“O que não quer dizer que ele não acredite na maior parte das coisas que diz”, e se “é verdade para ele também o será, certamente, para muita gente”, acrescenta.

Esta “angústia” de o teatro “valer ou não a pena” é uma “angústia” que toca Pedro Gil, ainda que não saiba como irá envelhecer.

“Acho que quando olhar para trás no fim da minha vida e achar que nos foi dada uma oportunidade de ter vivido a vida de uma maneira diferente, melhor, mais feliz, mais plena, e se eu tiver essa sensação, ou se nunca esteve ao meu alcance e eu estive a lutar por isso pode ser doloroso, quer dizer isso é uma coisa que me atrai. Não sou imune a essa possibilidade, sim”, argumenta.

Já António Fonseca não hesita em assumir que detesta pessoas “que chegam a determinada altura da vida, dizem 'eu falhei', e depois vão vingar-se”, que é o que acontece com o professor, pois este está a tentar “salvar-se e a fazer tudo para se salvar”, afastando os 12 alunos do teatro.

“Olhem que grande coisa boa que ele fez”, sublinhou António Fonseca, acrescentando que “há muita gente assim na sociedade”. Gente que diz e que está ciente de que não fez o que queria “porque a sociedade não deixou”.

“Gente que nunca assume os seus erros, atirando-os para a sociedade ou para os outros, o que é horrível”, enfatizou.

A questão "se ao menos o teatro tivesse feito a sua parte, talvez o mundo não estivesse como está" nunca é levantada pelo professor, mas está presente ao longo da peça, que vai estar em cena, na sala Garret, até 20 de novembro, com sessões de terça-feira a sábado, às 19:00, e, ao domingo, às 16:00.

No dia 14 de novembro, haverá sessão com Língua Gestual Portuguesa e uma conversa com os artistas após o espetáculo, enquanto a sessão de dia 20 terá audiodescrição.

A interpretar “O inesquecível professor” estão Ana Isabel Arinto, Anna Leppänen, Bruno Ambrósio, Catarina Pacheco, Joana Bernardo, João Estima, João Jonas, Júlia Valente, Mário Coelho, Sara Inês Gigante, Siobhan Fernandes e Tomás de Almeida.

O desenho de luz é de Daniel Worm e a produção da companhia Razões Pessoais, em coprodução com o D. Maria II e o Teatro Nacional S. João, dado que a peça estrá em cena no Teatro Carlos Alberto, de 17 a 20 de março de 2022.

Em 27 de novembro, “O inesquecível professor” estará em cena no Centro de Artes do Espetáculo de Portalegre, a 4 de dezembro, no Centro Cultural do Cartaxo e, em 15 de janeiro de 2002, no Teatro Municipal de Bragança.