Os retratos pintados por Júlio Resende, Júlio Pomar, Ângelo Sousa, Fernando Lanhas e Emerenciano e que estavam em exibição “foram retirados da exposição por causa de humidades” e "infiltrações", disse à Lusa Ana Moura, que cuidou do poeta nos últimos anos de vida.

“Humidade por humidade, as obras ficavam na Fundação Eugénio de Andrade [extinta em 2011], de onde nunca deviam ter saído e colocavam-se desumidificadores. Estou muito desagradada com as obras terem sido retiradas da Sala de Coleções Especiais da Biblioteca Municipal e colocadas na casa forte da biblioteca”, acrescentou Ana Moura.

Um funcionário da Biblioteca Municipal do Porto, que pediu anonimato, explicou à Lusa que “alguns quadros” que estavam expostos numa “parede grossa” e “virada a sul” tiveram de ser retirados e guardados devido “às humidades” e “infiltrações” registadas nessa parede.

“O que acontece é que esses quadros estavam pendurados numa parede que não oferecia as condições mais dignas. Inicialmente pensou-se que a parede tinha condições, mas verificou-se que ao longo dos tempos tinham humidade”, explicou o funcionário, acrescentando que mesmo depois de algumas obras de reparação na parede da biblioteca e de os quadros terem sido repostos, as obras voltaram a ser retiradas, estando agora guardadas.

Questionado pela Lusa, o gabinete de imprensa da Câmara do Porto assegurou que o espólio do poeta Eugénio de Andrade está localizado em vários locais da cidade, desde a Biblioteca Pública Municipal do Porto, bem como na antiga fundação, Paços do Concelho e em reservas municipais.

“É intenção do município desenvolver um polo cultural para usufruto público na casa de Eugénio de Andrade, após o acordo estabelecido com os herdeiros do poeta. Estão agora finalmente reunidas condições para avançar com o projeto cultural, cujo modelo vai ser agora estudado e maturado, sendo neste momento extemporâneo avançar com mais informação”, lê-se na resposta por escrito da autarquia.

Apesar de saber que as obras pertencem à autarquia, Ana Moura defende que o espólio do autor de “Adolescente” deveriam regressar “à casa de Eugénio Andrade”, onde ainda está “a biblioteca pessoal do poeta” e os seus “objetos pessoais”, conta.

Ana Moura revela que sugeriu ao presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que autorizasse que os retratos e o restante espólio do escritor regressassem à extinta Fundação Eugénio de Andrade, mas não obteve nenhuma confirmação.

A Fundação Eugénio de Andrade foi extinta na sequência da publicação em Diário da República no dia 23 de setembro de 2011, ficando a câmara como entidade responsável para decidir o que fazer ao imóvel de Eugénio de Andrade e ao espólio do poeta.

No passado dia 21 de maio, Rui Moreira assumiu, em reunião do executivo, que estavam criadas as condições para avançar com um polo cultural na casa de Eugénio de Andrade, depois de o município ter chegado a acordo com os herdeiros do poeta.