"As humanidades não podem morrer. As universidades, hoje, só querem as engenharias, as matemáticas, as tecnologias, os STEM [sigla inglesa para designar as áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática]. É um erro crasso. Portanto, tenho sempre defendido as humanidades. Nas humanidades estão as literaturas e é preciso continuar a defendê-las, mesmo que não haja mais ninguém, eu vou defendê-las", afirma o açoriano Onésimo Teotónio de Almeida.

O escritor e professor falou com a agência Lusa em Ponta Delgada, onde esteve esta semana na apresentação do doutoramento em Literaturas e Culturas Insulares, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade dos Açores (UAc)

O professor catedrático do departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros na Universidade Brown, nos Estados Unidos, enaltece as virtudes da literatura, que contribui para o "conhecimento da sociedade" mesmo não sendo uma ciência social.

"É uma outra maneira de olhar e tocar a realidade, diferente das Ciências Sociais. É um contributo para o conhecimento da sociedade. É preciso estarmos atentos ao que se passa lá fora mas não podemos estar em bicos de pés a olhar só para o que se passa lá fora e esquecer o que se passa cá dentro. E o que acontece cá dentro, está registado de muitas maneiras, a literatura é uma delas, e há que estudar isso", destaca.

O escritor assinala que a emergência de "literaturas identitárias", como reação à tendência globalista dos estudos literários, deve fomentar o estudo da literatura açoriana.

"Hoje fala-se muito em literatura global, mundial e mais não sei o quê, mas, por outro lado, existe uma reação a chamar a atenção para as literaturas identitárias: a literatura das mulheres, a dos índios, a dos negros, a dos ameríndios, a dos mexicanos e porque não também a dos açorianos?", aponta, assinalando que são "literaturas que são resultado de reflexão das pessoas no seu meio", reflexão que os "Açores têm feito ao longo de mais de um século".

Questionado sobre a posição de alguns autores que rejeitam a existência de uma literatura açoriana, defendendo a integração dos escritores açorianos na literatura nacional, Onésimo Teotónio de Almeida afirma que são "pessoas que sobre esse tema não sabem nada".

"Primeiro vão ler o que está publicado por gente como Urbano Bettencourt, Martins Garcia, Eduíno Jesus e Vamberto Freitas, que têm explicado o que é e como é que é. Portanto, quem se interessa a sério sobre isso ou leu ou já aprendeu ou então não leu e não vale a pena pronunciar-me sobre o assunto porque não me interessa ouvir as pessoas que sobre esse tema não sabem nada".

Autor de várias obras, entre artigos, crónicas e contos, soma mais de duas centenas de ensaios publicados em Portugal, Estados Unidos, Brasil, França e Reino Unido.

Entre os mais recentes títulos publicados, contam-se "Correntes D'Escritas & Correntes Descritas" (2019), "A obsessão da Portugalidade" (2017) e "O Século dos Prodígios" (2018).

Este último valeu-lhe vários prémios, entre os quais o prémio História da Presença de Portugal, da Academia Portuguesa de História, e o Prémio John dos Passos, da Madeira.

Sobre o doutoramento que apresentou, Onésimo Teotónio de Almeida frisou que "pretende aprofundar a reflexão dos Açores através da literatura e da cultura".

O doutoramento em Literaturas e Culturas Insulares não tem componente curricular e é ministrado pelo Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas, da FCSH da UAc, sendo resultado de uma parceria entre a academia açoriana, a Universidade da Madeira e a Universidade da Córsega, em França.

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