À Lusa, o encenador Albano Jerónimo realçou que o drama escrito por Cláudia Lucas Chéu, a partir do livro “Orlando: uma biografia” (1928) e do atentado de Orlando, que, a 12 de junho de 2016, causou pelo menos 49 vítimas mortais num espaço de diversão noturna frequentado pela comunidade LGBTQIA+ na cidade norte-americana, tem um “prólogo e três atos”, sobre um período de “violência extrema”, centrada na “discriminação”, que deveria ser de “tolerância e aceitação”.

“Este espetáculo consiste em pegar não só nas questões de género do próprio romance pós-modernista que Virginia Woolf nos traz até estes tempos, mas também em desenvolvê-lo para um tratado sobre dignidade humana”, salientou o encenador e ator da companhia Teatro Nacional 21, envolvida na produção do espetáculo que se vai estrear em Guimarães, no Centro Cultural Vila Flor (CCVF), na próxima semana.

Albano Jerónimo frisou que a peça é “fiel em praticamente 90%” à obra de Virginia Woolf, que narra a ‘viagem’ de um poeta que muda do sexo masculino para o feminino através da história da literatura inglesa, com 11 atores a interpretarem 20 personagens numa “teia dramatúrgica” que procura exprimir uma mensagem de “resistência” ao “poder”.

“Queremos ser uma força de combate. Esta narrativa vai misturar ficção e a perspetiva do atentado de Orlando, sendo uma tentativa de refletir sobre o facto de o género não ser uma essência, nem uma construção social, mas uma produção do poder. [A peça] é uma crítica dessas categorias de identidade, especificamente da identidade enquanto fundamento da ação política”, acrescenta.

O “Orlando que estará em palco”, diz ainda o encenador, será um protagonista “nobre, sofisticado e sensível”, como exemplo das “qualidades intelectuais e abstratas da pluralidade do homem”, numa “biografia ficcionada” que procura estimular a “reflexão”, o “desafio” e a “provocação” num “espectador emancipado”.

“A encenação remete-nos para uma perversidade poliforma sonhada, quer na recusa, quer na paixão angustiada, quer na transformação da beleza, nas representações singulares da fisicalidade corpórea”, descreve.

A peça explora ainda a “relação performativa entre a despersonalização e a personalização corporal”, a partir de “abordagens críticas como a psicanálise, a fenomenologia, o feminismo e a teoria ‘queer’”, refere Albano Jerónimo.

O conceito de “travessia”, como “alusão metafórica a temas não consensuais e a barreiras morais”, está na raiz das iniciativas paralelas à estreia do espetáculo, que se estende de 30 de novembro a 4 de dezembro.

O programa inclui o documentário “Travessia”, sobre a comunidade LGBTQIA+ em Portugal nos últimos 20 anos, agendado para as 21h00 de 30 de novembro, a apresentação do resultado das oficinas com alunos da Universidade do Minho, em 02 de dezembro, às 21h30, e um ‘vox populi’ com a população de Guimarães sobre “temáticas de género”, disponível no Espaço Escuta do CCVF, entre 1 e 4 de dezembro.

“Abordamos tópicos de género, incluindo a transexualidade e o transgénero, a deficiência física e mental, num limite muito ténue entre um trabalho para a inclusão e uma espécie de ‘freak show’ bizarro. Por isso, é necessário balizar muito bem a noção de comunidade envolvente para conseguirmos reflexões capazes de desafiar, sem violentar”, diz Albano Jerónimo.

Apoiado pela Direção-Geral das Artes, “Orlando” é uma coprodução da cooperativa Oficina, em Guimarães, da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, do Teatro Municipal do Porto (Rivoli), do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, do Teatro do Noroeste, em Viana do Castelo, e do Centro de Artes de Águeda.

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