O musical "The Outsiders" e "Stereophonic", uma peça sobre uma banda dos anos 1970 a trabalhar num álbum, receberam as principais honras no domingo na cerimónia dos Tony, os maiores prémios do teatro norte-americano.

A comunidade da Broadway celebrou o que há de melhor e mais brilhante no Lincoln Center de Nova Iorque, apresentado pela vencedora do Óscar Ariana DeBose pelo terceiro ano consecutivo.

"The Outsiders", uma adaptação teatral que partilha material do romance "Os Marginais", de S.E. Hinton, e do filme de 1983 de Francis Ford Coppola, sobre o conflito de classes entre duas gangues de liceu em Oklahoma na década de 1960, levou para casa o prémio de Melhor Musical - o quarto da noite, depois de Melhor Realização de Musical, Iluminação e Design de Som.

“A sociedade muda, mas a experiência de ser um 'outsider' é universal”, disse uma das produtoras, Angelina Jolie, ao apresentar a atuação do elenco, que inclui uma corajosa cena de luta.

“Para qualquer jovem, qualquer pessoa que se sinta de fora, não está errado ao ver o que é injusto, não está errado em querer encontrar o seu próprio caminho”, acrescentou a agora vencedora de um Tony.

Atuação de "Stereophonic" nos Tony

"Stereophonic", escrita por David Adjmi, recebeu o prémio de Melhor Peça. Conta a história da produção de um álbum de uma banda de rock fictícia e apresenta músicas originais de Will Butler, antigo membro dos Arcade Fire.

Ganhou cinco prémios na noite, incluindo Melhor Ator e Melhor Realização de Peça, depois de fazer história como a mais nomeada de sempre, com 13.

"Merrily We Roll Along", de Stephen Sondheim - sobre o relacionamento complicado de três amigos, contada ao contrário - foi um fracasso quando estreou em 1981, mas ganhou a redenção ao ao receber quatro prémios, incluindo o de melhor 'revival' de um musical.

As suas estrelas, Jonathan Groff e Daniel Radcliffe, famoso pela saga "Harry Potter", ganharam troféus pelas suas atuações no espetáculo.

Daniel Radcliffe

A vitória de Melhor Musical para "The Outsiders" foi uma surpresa para "Hell's Kitchen", um musical 'jukebox' vagamente baseado na vida da cantora pop Alicia Keys, que ganhou prémios para a Atriz Principal Maleah Joi Moon e para a atriz Kecia Lewis.

Num dos grandes momentos da cerimónia, a própria Keys subiu ao palco com o elenco para apresentar o seu grande sucesso “Empire State of Mind” – que contou com uma participação especial de Jay-Z, que cantou do lado de fora do teatro, onde a cantora se juntou para terminar o tema.

Sarah Paulson recebeu o Tony de Melhor Atriz Principal numa peça pelo seu trabalho no drama familiar "Appropriate", que também ganhou o prémio de melhor 'revival' de uma peça.

Jeremy Strong, famoso pela série "Succession", foi eleito o Melhor Ator Principal numa peça pela sua participação no 'revival' de "Um Inimigo do Povo", de Henrik Ibsen.

O teatro como um 'lugar seguro'

Ariana DeBose

Foi um regresso à boa forma para os Tony depois do ano passado, quando a cerimónia ao vivo transmitida pela televisão nacional quase não aconteceu devido a uma greve do sindicato Writers Guild of America. No final, o espetáculo continuou – improvisado.

Os destaques incluíram uma versão escaldante de "Wilkommen" de "Cabaret", protagonizada por Eddie Redmayne, e acrobacias de alto voo do elenco do musical de circo "Água Para Elefantes".

As sumidades da Broadway Audra McDonald, Brian Stokes Mitchell e Bebe Neuwirth lideraram uma homenagem especial a Chita Rivera, que morreu em janeiro aos 91 anos.

Também DeBose dançou um excerto de "West Side Story" interpretando Anita, a personagem originada por Rivera e pela qual DeBose ganhou um Óscar.

E Pete Townshend, o lendário cofundador dos The Who, tocou as notas de abertura da apresentação da ópera rock da banda “Tommy”.

A Broadway League, a associação comercial nacional do setor, divulgou dados no mês passado que indicavam que os espectadores de teatro continuavam a dirigir-se a Manhattan para assistir a novas produções e 'revivals' de favoritos consagrados pelo tempo.

Durante a temporada 2023-24, quase 90% dos lugares disponíveis foram ocupados, um pouco acima da afluência da temporada passada, que foi a primeira completa desde a pandemia, informou a liga em comunicado. Isso traduziu-se num público de 12,3 milhões.

“Na maior parte do tempo, as primeiras páginas são francamente assustadoras. Mas o teatro é um lugar seguro para todos nós”, disse DeBose no seu monólogo de abertura.

"E nos momentos mais difíceis, a arte é imperativa porque reflete a sociedade e fornece contexto para as situações reais em que nos encontramos hoje", salientou.