O estudo, desenvolvido por investigadores do Imperial College, demonstrou que as pessoas têm 4% de probabilidades de estar mais satisfeitas com a sua vida a cada subida de 10 lugares na classificação final do festival, ou seja, ficam 4% mais satisfeitas se o seu país terminar em 2.º lugar em vez de 12.º lugar, por exemplo.
A investigação, publicada na revista BMC Public Health, também revelou que participar e ficar mal classificado é mais benéfico para a satisfação das pessoas do que não participar de todo.
A equipa de investigadores, que foi surpreendida com o resultado, disse que o estudo vai ao encontro de outros anteriores que mostravam que o sucesso em grandes eventos, como provas desportivas, pode contribuir para a melhoria da saúde e bem-estar de uma nação.
O investigador Filippos Filippidis, que lidera o estudo desenvolvido pela Escola de Saúde Pública do Imperial College London, disse, citado num comunicado da instituição, que “a ideia para o estudo surgiu numa conversa descontraída no departamento”.
“O nosso trabalho envolve investigar o efeito das políticas públicas, fatores ambientais e condições económicas na saúde e estilo de vida das pessoas. O nosso departamento emprega pessoas de diversos países e na altura do Festival Eurovisão da Canção estávamos a conversar sobre a possibilidade de a competição também afetar o nível de bem-estar de um país. Debruçámo-nos sobre a questão e fomos surpreendidos com a descoberta de que pode haver uma ligação”, disse o cientista.
Os investigadores analisaram dados relativos a mais de 160 mil pessoas com origem em 33 países europeus, as quais responderam a um questionário integrado no Eurobarómetro, levado a cabo várias vezes ao ano pela Comissão Europeia.
Entre outras questões, o inquérito pergunta aos cidadãos europeus quão satisfeitos estão com a sua vida.
A equipa analisou as respostas obtidas por altura do festival – meses de maio e junho – entre 2009 e 2015, concluindo que as pessoas nesses meses revelam estar mais satisfeitas com a sua vida se o seu país tiver tido um bom desempenho na competição desse ano.
A partir desses dados os cientistas calcularam que a cada subida de 10 lugares na classificação final se associava uma probabilidade de 4% de estar mais satisfeito com a vida.
Ainda assim, ganhar a competição não revelou ser um fator de satisfação adicional.
Os cientistas compararam depois os dados de cidadãos de países mal classificados com os de países que não participaram de todo.
Concluíram que participar, mesmo que terminando nos últimos lugares, significava uma probabilidade 13% superior de satisfação com a vida em comparação com não participar.
Filippidis ressalvou que o estudo apenas demonstra uma ligação, não uma relação direta de causa-efeito na satisfação geral das pessoas, mas admite que os resultados apontam para um impacto de grandes eventos na ‘psique’ coletiva de um país.
“Aumenta o nível de boa disposição à nossa volta, até entre as pessoas que não estão particularmente interessadas na competição. Lembro-me quando a Grécia ganhou em 2005: nas semanas seguintes parecia que as pessoas andavam mais bem-dispostas”, disse Filippidis.
O cientista, que admitiu não ser um fã do Festival Eurovisão da Canção, acrescentou que o estudo demonstra que a ciência pode ser usada para “testar questões inesperadas”, e espera que possa levar as pessoas a considerar que o seu bem-estar, e, consequentemente, a sua saúde, pode ser influenciado por uma série de fatores.
A 63.ª edição do Festival Eurovisão da Canção realiza-se em Lisboa, pela primeira vez. Portugal acolhe o concurso por ter sido o vencedor na edição do ano passado, com a canção “Amar pelos dois”, interpretada por Salvador Sobral.
Na final do concurso competem 26 canções. Seis têm entrada direta – a de Portugal, por ser o país anfitrião, e as dos países do chamado grupo dos ‘Big5’ (Espanha, Reino Unido, Alemanha, Itália e França).
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