“Pessoalmente sinto-me muito português e sinto-me representar Zeca [Afonso] e o cantautor português”, disse à agência Lusa o intérprete e autor de "Si Yo Fuera Mujer", que além de Lisboa, atua na segunda-feira, na Casa da Música, no Porto, e no dia 28 de junho em Évora, no âmbito da Feira de S. João.

O concerto de Évora foi o primeiro convite que recebeu, por parte da Associação José Afonso (AJA), entidade com a qual mantém uma “relação de grande proximidade”.

“Merecia a pena reconhecer esta memória [de José Afonso], com a segurança da participação de alguns músicos portugueses, até para ver como soam hoje as canções do autor de ‘Grândola, Vila Morena’”, afirmou.

Em Lisboa, com Patxi Andión sobem ao palco do CCB Amélia Muge, José Barros e Carlos Alberto Moniz; no Porto e em Évora partilham o palco com o músico espanhol João Afonso, sobrinho de José Afonso, José Barros e Carlos Alberto Moniz.

A primeira parte de cada concerto é preenchida com canções do repertório de Andión, como “Compañera”, “María”, “A Quién Importará”, “Desde que te Quiero” ou “Es Tan Difícil Dejar de Pensar”, e outras em Língua Portuguesa, para além de duas canções novas, que sairão no seu próximo disco, “2018”, que celebra o cinquentenário da sua primeira edição discográfica.

Na segunda parte serão interpretadas dez canções de José Afonso, algumas em dueto com os convidados. Das canções de José Afonso, à partida, está excluída “Grândola, Vila Morena”.

“‘Grândola’ não! ‘Grândola’ é uma bandeira, e eu acho que a bandeira não pode ser, assim, usada todos os dias”, disse, acrescentando que se no final do concerto “toda a gente começar a cantar ‘Grândola, Vila Morena’, então sim, cantaremos todos”.

Do repertório de José Afonso (1929-1987) serão interpretadas, entre outras, as canções “Verdes são os campos”, um poema de Luís de Camões, “Balada de Outono”, “Canção de Embalar”, “Traz Outro Amigo, Também”, “No Comboio Descendente”, “Venham mais Cinco” e “Natal dos simples”.

Para Patxi Andión, que foi amigo de José Afonso, falecido há 30 anos, estes espetáculos não pretendem ser uma homenagem, antes “um reconhecimento” pela obra do criador de “A morte saiu à rua”.

"Há muito da vida e da obra de Zeca que vive em mim", disse Patxi Andión, que nestes espetáculos é acompanhado pelo pianista Gabriel García Diego, que está a fazer os arranjos do disco “2018”, pelo baterista Guillermo McGill e pelo contrabaixista Josemi Garzon.

O músico espanhol em 2014 atuou em três salas nacionais, tendo nesse ano editado o álbum “Cuatro Días de Mayo”, o seu primeiro disco gravado ao vivo.

“A minha relação com Portugal, a música e a língua portuguesas é de absoluto amor e uma paixão, que existe desde a década de 1960”, disse o músico na ocasião, numa entrevista à Lusa.

Fazendo questão de se expressar em Língua Portuguesa, o "cantautor" madrileno, de ascendência basca, afirmou que sempre viu “Portugal como um território livre, sobretudo depois do 25 de Abril de 1974”.

“Muito especialmente depois da Revolução dos Cravos, em que passei a sentir que, de facto, as pessoas gostavam francamente e compreendiam o que eu fazia”, disse.