"Precisava de prestar uma homenagem a todos estes portugueses que vieram para França e às nossas famílias. Não numa perspetiva de reivindicação, mas sim para não esquecermos de onde viemos", disse Isabel Ribeiro, autora e protagonista da peça “Saudade, ici et là-bas”, em declarações à agência Lusa.
Com uma carreira de mais de 20 anos no mundo do teatro, dança e música, Isabel Ribeiro assina pela primeira vez uma peça falando da imigração portuguesa em França.
Nascida em França de um pai vindo de Viana do Castelo e de uma mãe oriunda de Ovar, a autora disse ter crescido com esta dupla cultura, preocupando-se mais tarde com a importância da transmissão daquilo que a sua família viveu em Portugal e em França.
"Senti esta necessidade de trabalhar mais profundamente e procurar o que é para mim a transmissão cultural, o que é esta dupla cultura. Acho que todos nos questionamos dizendo que somos franceses, com origens portuguesas, mas como é que eu vivo isso", questionou.
Assim, a convite do festival "Novembre em Normandie" e com a companhia Cinéthéact nasceu a peça “Saudade, ici et là-bas” sobre a história de dois irmãos e um sobrinho que têm de decidir sobre a venda da casa dos pais em Portugal, uma decisão "avassaladora".
"Este encontro permite evocar uma história familiar que Manu [o sobrinho] não conhece porque ele é de uma outra geração. Ele é filho de uma mulher de origem portuguesa, mas não conhece muita coisa sobre o passado da família e vai descobrir os seus laços à família portuguesa", explicou.
A peça é encenada por Alexis Desseaux e conta ainda com Dan Inger dos Santos e Simon Gielen no elenco, havendo também uma forte presença da música, com canções como "Barco Negro" que vão acompanhando a trama.
A peça já foi apresentada algumas vezes, com uma receção calorosa por parte do público, mostrando a "universalidade" da história da imigração em França.
"As pessoas de origem portuguesa ficaram muito emocionadas e mesmo quem não tem nada a ver com Portugal disse que também foi tocado porque toda a gente, a um certo momento, já foi obrigado a abandonar o sítio de onde é para procurar uma vida melhor", explicou Isabel Ribeiro.
O espetáculo no Teatro Clavel, em Paris, nos dias 24 e 25 de setembro, vai servir para mostrar a peça a uma audiência profissional, embora seja também aberto ao público, e conseguir levá-lo a teatros na região parisiense, em toda a França, mas também a outros países com emigração portuguesa como o Luxemburgo, Bélgica ou Suíça, assim como Portugal.
"Queremos que esta peça viaje. Desde logo em França, mas também noutros países como a Bélgica, Luxemburgo, Suíça e Portugal. Queremos ir ao encontro de todos estes emigrantes que são os atores desta peça", concluiu a autora.
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