O espetáculo, que é uma criação de Joana Pupo e Pepa Macua, parte de testemunhos reais de migração que as duas criadoras recolheram – quer de pessoas que vieram para Portugal quer de algumas que partiram do país – para refletir sobre “o enraizamento do corpo” e “de como é que o corpo encontra raízes”, contou uma das atrizes.

“Quisemos incluir na nossa peça vozes que sejam diversas e com histórias e condições e motivações diferentes”, disse à agência Lusa Pepa Macua.

Para a criadora, as histórias, a que dão corpo e voz no espetáculo, “colocam em questão tensões que as pessoas migrantes vivem, entre o desenraizamento do lugar onde nascem e quais as estratégias para ligar o corpo e a vida noutro lugar”.

Segundo Joana Pupo, este é um espetáculo de “teatro, dança, mas também de narrativa”, sendo ainda assumida a apropriação que as duas criadoras fazem – com dois pontos de vista do mundo particulares – sobre as suas histórias.

“Os textos que escolhemos [das entrevistas] são absolutamente realistas, mas são reconfigurados na experiência que temos de encarnar estas outras histórias”, acrescentou Pepa Macua, considerando que algumas das histórias representam muitas outras, nomeadamente a narrativa em torno da busca “de um lugar onde a vida seja menos agressiva”.

Em palco, há também o trabalho em torno de sons, música, cheiros e imagens ou cores que procura remeter para os lugares de origem das personagens.

A interferência das criadoras passa mais “pelo lado composicional”, na forma de entrecruzar as histórias, mas também pelas perguntas que foram feitas aos entrevistados e por aquilo que decidiram usar e deixar de fora, notaram as duas atrizes.

No espetáculo, o duo pretende também refletir sobre “a experiência do não lugar”.

“Quando uma pessoa migra, não pertence ao lugar de onde veio nem ao lugar para onde foi”, salientou Pepa Macua.

“Todos podemos ser ‘outsiders’ e somos de alguma forma – até na nossa própria terra -, mas também podemos decidir ligar-nos e procurarmos essas qualidades de escuta”, frisou Joana Pupo.

O espetáculo é apresentado de quinta-feira a sábado, às 19h00, e no domingo às 16h00.

“A gravidade de um pássaro” conta com co-encenação e dramaturgia de Ana Woolf, Marcos Aganju na banda sonora e sonoplastia, Ana Limpinho na cenografia, Mafalda Oliveira no desenho de luz e Tiago Hespanha no vídeo.

O bilhete custa entre cinco e 10 euros.