“A digressão de apresentação de ‘Espiritual’, o mais recente disco do artista, já está na estrada, com os concertos agendados para janeiro todos esgotados. Em novembro chega aos Coliseus de Lisboa e Porto, nos dias 8 e 15, respetivamente. Os bilhetes já se encontram disponíveis nos locais habituais”, refere a promotora dos espetáculos num comunicado hoje divulgado.
Este mês, Pedro Abrunhosa atua em Torres Novas (nos dias 12 e 13), Vila Nova de Famalicão (18 e 19), Beja (26) e Loulé (31). Em fevereiro, o músico tem concertos marcados na Figueira da Foz (16) e Estarreja (23, já esgotado). Depois disso, e antes de chegar aos coliseus, a digressão de “Espiritual” passa por Coimbra (29 de março), Sintra (30 de maio), Braga (31 de maio), Espinho (13 de julho) e Viseu (17 de agosto).
“Espiritual”, editado a 30 de novembro, é um disco com 15 canções, nas quais Pedro Abrunhosa exorciza angústias sobre vários assuntos, unidas pela “profundidade da palavra” e pelo som, “gravado à moda antiga”.
“A palavra é fundamental no registo da minha escrita de canções, na minha atividade de escritor de canções. Esta atividade é uma atividade de escrita, e, portanto, a palavra é primordial”, afirmou, em entrevista à Lusa na altura, acrescentando que as letras “são o fio condutor” do disco.
O conjunto de 15 canções, que escolheu de um total de 30 compostas ao longo dos últimos dois anos, “faz um bloco”, ao qual decidiu chamar “Espiritual” porque, “em tempo de frivolidades, de superficialidade”, a arte “devolve esta profunda capacidade de contemplação, de usufruto, de estremecimento, de encantamento, de iluminação”.
O músico sublinhou tratar-se de uma espiritualidade “que não é o monopólio das religiões, é uma espiritualidade que é obviamente humana, que é esta do transcendente que existe na Arte”.
“Espiritual” foi produzido por João Bessa e Pedro Abrunhosa, no estúdio do segundo, e “gravado à moda antiga”, com os músicos, “às vezes dez ou 12, a gravar ao mesmo tempo, num espaço ‘armadilhado’ de microfones”.
O álbum inclui uma série de convidados, entre os quais seis cantores com quem Pedro Abrunhosa gravou outros tantos duetos: as portuguesas Ana Moura e Elisa Rodrigues, a francesa Carla Bruni, a norte-americana Lucinda Williams, a mexicana Lila Downs e o brasileiro Ney Matogrosso.
Convidar a mexicana Lila Downs para com ele dar voz a “Amor entre muros”, escrita há dois anos “sobre os refugiados em geral”, foi uma “consequência natural”, já que a cantora “tem uma voz ativa neste assunto há muitos anos”, e “nada melhor para representar esta situação do que a situação corrente no México”.
Pedro Abrunhosa escreveu “Amor entre muros” a pensar nos movimentos dos migrantes, “pessoas que procuram paz, procuram um chão onde educar os filhos, fogem da violência, procuram pão”.
A questão dos migrantes e dos refugiados é também abordada pelo músico em “Porque é que não fui eu”, tema no qual Ney Matogrosso “faz a voz de Deus”.
“É uma canção duríssima dedicada àquela criança [o sírio Alan Kurdi, de três anos] daquela imagem terrível que todos nós vimos da morte na praia [na Turquia, em 2015]”, contou à Lusa.
A letra da canção “é um diálogo entre Deus e uma criança”, e Abrunhosa achou “que a voz do Ney poderia simbolizar esse Deus em todos os seus aspetos, quer espirituais quer humanos”.
“São coisas que me marcam de tal maneira que eu, em vez de ir ao psiquiatra, sento-me ao piano e expulso de mim e partilho com os outros. É uma necessidade de exorcizar a minha própria angústia sobre um problema”, partilhou.
O mesmo aconteceu com “Dizes que gostas de mim”, sobre “uma realidade nefasta”, a da violência doméstica, e com “Meu querido filho, tão tarde que é”, que o músico escreveu depois dos grandes incêndios que assolaram Portugal no ano passado.
O que o move a escrever estas e outras canções “não é uma consequência política, é uma consequência ética”. “Eu perante a minha consciência, não no sentido de um pensar na consequência que vai ter, mas naquilo que eu acho que é o bem”, afirmou.
O que o leva a essas letras são “ímpetos criativos”, “uma necessidade de expulsar a dor”, os mesmos que o levaram a escrever sobre Gisberta, a transexual assassinada no Porto em 2006, ou sobre o “Senhor do Adeus”, “uma personagem poética de Lisboa, que exemplificava de alguma forma a poesia possível na banalidade urbana” (em “Contramão”, de 2013).
Apesar de considerar que, “se calhar ninguém vai olhar para trás, daqui a cem anos, e querer perceber o que se passava em Portugal no meio artístico”, quando o mundo “viveu aquele momento de ‘multiditadores’, entre o norte-americano, o coreano e o russo e o turco”, Pedro Abrunhosa, cujo primeiro álbum, “Viagens” data de 1994, gostava de, “se olharem”, não ser visto como “uma voz silenciosa”.
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