“Em palco, a atitude é meio caminho andado para convencer toda a gente”, disse a pianista Inês Lamela aos reclusos, numa das vezes em que as suas vozes saíram tímidas das gargantas e os corpos não acompanharam o ritmo da música.

Inês Lamela é professora de piano e pianista e esteve em Viseu a convite do Teatro Viriato, na sequência da sua tese de doutoramento baseada numa experiência de oito meses com quatro reclusas do Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo.

“Sou pianista, tenho o percurso o mais tradicional que se possa imaginar e, quando entrei pela primeira vez numa prisão e participei num projeto de música, percebi que estes anos todos de investimento numa carreira artística faziam muito mais sentido quando eram postos em prática a trabalhar com as pessoas que estão numa situação muito complicada”, contou aos jornalistas.

Segundo Inês Lamela, esta é uma experiência transformadora, quer para si própria, quer para os reclusos, sendo o objetivo levá-los a descobrirem algo que não sabiam ser capazes de fazer.

“Não estou à espera de ter alguém que, de repente, tem uma epifania e diz: ‘Eu quero fazer música até ao resto da minha vida’”, gracejou.

A pianista disse que pretende apenas ajudar os reclusos a “descobrir novas capacidades, descobrir que se consegue trabalhar em equipa”, mesmo que se esteja “muito centrado em si mesmo”.

Durante o trabalho em palco, a voz de Sérgio Moura destacava-se entre as dos colegas, forte e segura, deixando antever um passado de experiências musicais.

“Fui vocalista de algumas bandas pequenas na minha terra e também toquei alguns instrumentos de sopro numa banda filarmónica”, contou depois aos jornalistas, acrescentando que, antes de ir para o Estabelecimento Prisional de Viseu, esteve no de Izeda e era vocalista da banda de lá.

No Estabelecimento Prisional de Viseu não há banda, mas “era bom que houvesse”, até porque a música dá “outro estado de espírito”, considerou.

Para José Loureiro, no passado, a música fazia parte do seu dia-a-dia, uma vez que teve bares e discotecas.

Na sua opinião, devia haver mais projetos como este, até porque, dentro da prisão, “toda a gente sente falta de um bocadinho de entretenimento”.

Inês Lamela disse estar convencida de que não é preciso fazer um doutoramento para se chegar à conclusão de que a música é transformadora.

“A música pode ser altamente transformadora só pelo facto de estar sentado numa cadeira a ouvi-la. Quando se faz música, essa transformação pode ser ainda maior”, frisou.

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