"Apesar de ter todas as características de um concerto - disse o compositor à agência Lusa -, gosto de não concretizar isso no nome da peça, porque pode haver uma expectativa, em relação ao que é o concerto. Se calhar preferia que as pessoas fossem [para a audição da obra] de espírito aberto e tivessem só a imagem de um piano e uma orquestra”.
A estreia mundial de “Step Right Up” conta com Roger Muraro, especialista em música contemporânea, e realiza-se no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, antecipando a primeira audição da obra no Brasil, em São Paulo. A obra resulta de uma encomenda feita no âmbito da parceria "SP-LX" (São Paulo-Lisboa), estabelecida entre a Gulbenkian e a Orquestra Sinfónica do Estado de São Paulo, com o objetivo de promover a criação e a partilha da nova música produzida nos dois países.
“O género concerto para piano e orquestra tem uma genealogia muito forte, e o piano é um instrumento imenso, portanto o que me pareceu fazer sentido foi tentar escolher que tipo de piano eu queria, e que tipo de relação queria que houvesse entre piano e orquestra. No fundo, escolher uma abordagem sincera, e que tivesse uma afinidade com a minha maneira de pensar a música, e tentar integrá-la nesse formato, que é o formato concertante”, disse o compositor à Lusa.
“Step Right Up”, com uma duração aproximada de 20 minutos, tem três andamentos. O primeiro e o último "são mais vivos, talvez de música mais exterior, mais de rua, e o andamento central, é um andamento mais interior, mais noturno", estabelecendo "um equilíbrio tradicional na forma”.
Para Vasco Mendonça, o facto de a peça surgir no âmbito da parceria SP-LX não influenciou a obra. "O que eu tentei, foi fazer a música da forma mais genuína, sincera e mais consistente de que fui capaz”.
O compositor disse, todavia, que a peça “tem um caráter de percussão e ritmo bastante vincado, até por relação com percussões africanas, com rituais africanos", mas esse facto não resulta "conscientemente" da parceria Portugal/Brasil, que enquadra a encomenda, mesmo que se associe sempre, a alguma música do Brasil, "uma componente rítmica muito grande". Por isso, acrescentou, "não o sendo, existe qualquer coisa ali” dessa relação.
Vasco Mendonça adiantou que “Step Right Up” vai ser uma das três obras orquestrais que vai gravar com a Orquestra Gulbenkian, depois da estreia, naquele que será o seu primeiro álbum monográfico, a editar pela Naxos, no final do ano.
Ao concerto para piano e orquestra, vão juntar-se “Group Together, Avoid Speech” (2012) e “Unanswerable Light” (2016), que Vasco Mendonça reviu no ano passado.
A Fundação Calouste Gulbenkian realça em particular que Vasco Mendonça “tem vindo a ser alvo de um progressivo reconhecimento internacional”.
A sua primeira ópera, “The House Taken Over”, estreada no Festival d’Aix-en-Provence, em 2013, foi levada à cena ainda em Estrasburgo, em França, em Antuérpia e Bruges, na Bélgica, e na Cidade do Luxemburgo. Em Lisboa, esteve em cartaz no Teatro Municipal Maria Matos em Lisboa, em 2014.
No ano passado, o compositor apresentou uma nova produção da mesma ópera no National Sawdust, em Nova Iorque, o que foi a sua estreia em terras americanas, a que se seguiu a primeira audição da obra de câmara “Fight | Flight | Freeze”, no Peter Jay Sharp Theatre, do Lincoln Center, em Nova Iorque, no âmbito de um programa de concerto que incluiu igualmente composições dos finlandeses Esa-Pekka Salonen e Kaija Saariaho, ^mentora do compositor português, no Programa Mestres Discípulos 2014-2015.
No ano passado Vasco Mendonça estreou a sua segunda ópera, “Bosch Beach”, encomendada pela Bosch 500 Foundation, de Amesterdão, que foi levada à cena, na Bélgica, na Alemanha e em Portugal, além da Holanda.
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