O galardão distinguiu o dramaturgo, ficcionista e poeta Fosse, de 64 anos, pelas suas “peças inovadoras e prosa que dá voz ao indizível”, segundo a justificação do prémio lida pelo secretário permanente do Comité Nobel, Mats Malm, numa cerimónia em Estocolmo.

Malm disse já ter falado com Fosse, que estava a conduzir pelo campo, a norte de Bergen, na Noruega, e tiveram oportunidade de discutir detalhes sobre a semana Nobel, em dezembro, quando os prémios são entregues.

“A sua imensa obra, escrita em norueguês e abrangendo uma série de géneros, consiste numa grande variedade de peças de teatros, romances, coleções poéticas, ensaios, livros para crianças e traduções. Apesar de ser um dos mais representados dramaturgos no mundo, também se tornou crescentemente reconhecido pela prosa”, acrescentou a justificação da organização do prémio.

Em Portugal, múltiplas das suas obras estão publicadas, com destaque para o trabalho feito pelos Artistas Unidos, que desde 2000 encenam as suas peças, a começar com “Vai Vir Alguém”, levada ao palco por Solveig Nordlund.

Nos Livrinhos de Teatro, dos Artistas Unidos e da editora Cotovia, estão publicadas “A Noite Canta os seus Cantos”, “Inverno”, “Lilás”, “Conferência de Imprensa e Outras Aldrabices”, e “Sou o Vento/Sono/O Homem da Guitarra”.

Entre outras edições, a Cavalo de Ferro tem vindo a publicar a prosa de Fosse, com destaque para “Trilogia” (2022) e “Septologia I-II” (2022).

Jon Fosse
créditos: AFP

Um prémio entre críticas e mudanças

A Academia sueca tem sido alvo de críticas pelo predomínio de autores ocidentais, brancos e masculinos entre os vencedores. Desde a criação do Nobel de Literatura, apenas 17 mulheres venceram a categoria, de um total de 119 contemplados.

No ano passado, no entanto, a Academia tinha disntinguido a ícone feminista francesa Annie Ernaux. No ano anterior, foi a vez do romancista britânico de origem tanzaniana Abdulrazak Gurnah ser reconhecido pelo seu trabalho que explora as mazelas do exílio, do colonialismo e do racismo.

"Nos últimos anos, há mais consciência de que não se pode permanecer com uma perspetiva eurocêntrica, deve haver mais igualdade e o prémio tem de refletir o seu tempo", afirmou a professora de literatura da Universidade de Estocolmo Carin Franzen.

Vários membros da Academia, formada por autores, historiadores, filósofos e linguistas, participaram em debates políticos e sociais, organizaram seminários sobre liberdade de expressão e igualdade e publicaram artigos de opinião na imprensa sueca.

"Isso era impensável há cinco anos", disse Wiman, fazendo referência à formação anterior, que era mais fechada.

Para honrar sua promessa de mais diversidade, a Academia passou a consultar especialistas externos para compreender melhor o âmbito dos trabalhos provenientes de locais distantes.

"Dada a promessa da Academia de olhar para outras regiões geográficas, temo que acabemos sem o conhecimento necessário para adivinhar o vencedor, mesmo que possua um doutorado em literatura", admitiu Victor Malm, editor de cultura do popular jornal Expressen.

Entre os favoritos à honraria estava a autora e crítica do Kremlin Lyudmila Ulitskaya, conhecida pelos seus romances épicos muitas vezes centrados nos relacionamentos pessoais, além do britânico Salman Rushdie, que sobreviveu a um esfaqueamento no ano passado, após viver escondido durante anos devido a uma sentença de morte proferida pelo Irão pelo seu romance "Os Versos Satânicos" (1988).

Entre outros nomes especulados para a categoria deste ano estavam aida a escritora chinesa Can Xue, o autor romeno Mircea Cartarescu, os húngaros Peter Nadas e Laszlo Krasznahorkai, o albanês Ismail Kadare, o queniano Ngugi wa Thiong'o e a canadiana Margaret Atwood.

O Nobel da Literatura é um prémio concedido anualmente, desde 1901, pela Academia Sueca a autores que fizeram notáveis contribuições ao campo da literatura, e tem um valor pecuniário superior a 900 mil euros.