O espetáculo, que será apresentado em duas sessões, na sexta-feira e no sábado, no Auditório Municipal António Chainho, resulta do projeto "Produktivismo", da companhia Mala Voadora que desenvolve em Santiago do Cacém o programa Campilhas Internacional.
As cinco pessoas, que se encontram “num momento de pausa” profissional, foram desafiadas a integrar o projeto e a mostrar “uma visão sobre o mundo do trabalho que transcende o habitual positivismo”.
Através da performance, a companhia de teatro quer dar “mais voz a uma questão que às vezes é tabu” e que, em muitos casos, é vivida “de uma maneira mais intima [e] mais solitária”, revela a diretora artística, Lígia Sousa, em declarações à agência Lusa.
Durante seis semanas, de segunda a sexta-feira, “em horário de expediente”, Fátima, Carlos, Paula, Vitória e José, todos desempregados e com idades entre os 30 e os 50 anos, desenvolveram relações e partilharam experiências para “fazer do seu tempo, um projeto de teatro”.
Todos os dias, numa pequena sala da Biblioteca de Santiago do Cacém, os novos atores, recrutados através do Centro de Emprego de Sines, juntaram-se à diretora artística, para fixarem uma estrutura.
A partir “das palavras e das conversas”, transformaram as suas profissões em matéria de espetáculo, realça.
“Nas primeiras semanas contaram as suas experiências profissionais e tentámos coser estes remendos”, conta Lígia Sousa, enquanto prepara o cenário com poucos adereços para o ensaio do dia, que a Lusa acompanhou.
Em palco, um serralheiro irá trabalhar o metal, um auxiliar de saúde irá auxiliar, um repórter irá reportar, uma feirante irá feirar, uma empregada de limpeza irá limpar, utilizando “elementos decorativos” para “martelar com flores” ou “varrer com palmeiras”, explica.
Enquanto aguarda pelo início do ensaio, Carlos Ledo, 54 anos, confessa à Lusa que vai pisar pela primeira vez o palco, retratando a sua experiência no mundo da comunicação social e da navegação.
“No fundo a peça é o resultado das frases, dos gestos e dos sons da experiência profissional” do grupo, conta, sentado no sofá colocado no meio de uma caixa negra, que também servirá de adereço para a ação.
Enquanto se prepara para ‘vestir’ o papel de auxiliar de saúde, José Costa, 51 anos, a receber o Rendimento Social de Inserção (RSI) há dois anos, diz que não pensou duas vezes quando aceitou participar na experiência, que considera ser gratificante.
No elenco estão três elementos da mesma família, marido, mulher e cunhada, que partilham, em palco, as experiências profissionais, mas também o desconhecimento pelo mundo da criação teatral.
“Estou a ver isto como uma boa oportunidade. Nunca tinha feito teatro e também nunca pisei um palco. Nas primeiras semanas senti-me nervoso, mas agora cada vez menos”, confessa Diogo Nascimento, serralheiro, de 41 anos, também a receber RSI.
Ao seu lado, a esposa Vitória, 35 anos, também a viver do rendimento, mostra o entusiasmo com o desafio que apelida de “diferente e divertido”, embora garanta que, em casa, o teatro não entra.
“Tudo é difícil, mas vamos aprendendo uma coisa nova em cada dia. Em casa, fazemos uma pausa”, afirma Vitória que, em palco, mostra o lado performativo e a experiência como feirante.
Sem tirar os olhos das falas alinhadas nas folhas distribuídas momentos antes, os elementos, de pé, espalhados pelo cenário, ensaiam mais uma cena onde se cruzam em palco todas as profissões.
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