Quando o projeto foi anunciado, em maio de 2017, depois de a CML ter assinado um protocolo com o artista Julião Sarmento para cedência da sua coleção privada, estava prevista a inauguração do espaço para o final de 2018, início de 2019.

Contactado pela Lusa, o departamento de comunicação da autarquia de Lisboa disse que o projeto de arquitetura, que tinha ficado a cargo do arquiteto Carrilho da Graça, "está a ser terminado".

"Sem projeto de arquitetura não há possibilidade de iniciar as obras, e estas dependem de um procedimento público, nos termos da lei. Todos estes passos continuam previstos e deles se irá dando nota", garantiu a mesma fonte.

A coleção privada de Julião Sarmento, iniciada pelo artista plástico em 1967 quando andava na faculdade - sem que tenha parado de colecionar desde aí -, reúne obras em pintura, objetos, instalações, vídeos e esculturas de artistas portugueses e estrangeiros que conheceu, com quem fez amizade ou conviveu, em algum momento da vida.

Só cinco por cento das obras da coleção privada do artista plástico foram compradas, tendo trocado outras por obras de sua autoria, ou recebido de oferta.

A ideia de doar a coleção à Câmara de Lisboa surgiu depois de o artista plástico ter exposto, em 2015, a sua coleção – Coleção Sild – na mostra “Afinidades Eletivas”, no então Museu da Eletricidade, integrado no atual Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), e na Fundação Carmona e Costa.

Na altura, um amigo do artista, o colecionador António Cachola, que tem a sua coleção própria exposta em Elvas, disse-lhe que era uma pena que Julião Sarmento tivesse a coleção fechada, e não pudesse ser vista por toda a gente, contou o artista à imprensa, em maio de 2017, quando assinou o protocolo com a CML.

“Fiquei a pensar que era um pouco egoísta da minha parte manter aqueles objetos todos fechados em casa ou em armazéns, e surgiu a ideia de propor cedê-la à Câmara de Lisboa de forma a poder dar àquela coleção uma visibilidade constante”, disse Julião Sarmento.

Sobre o local que vai acolher a coleção – o Pavilhão Azul, na avenida da Índia, em Lisboa -, o artista considerou-o “o sítio perfeito”, já que tem “tamanho humano”, é um “edifício bonito e está super bem situado naquele eixo museológico que se adivinha no local”.

Julião Sarmento disse ainda que, em comum acordo com a autarquia, tinham chegado à conclusão de que a pessoa indicada para as obras de recuperação do pavilhão era o arquiteto Carrilho da Graça, seu amigo pessoal, e, como responsável artístico, o curador Sérgio Mah.

O artista e colecionador não tem dúvidas de que o Pavilhão Azul, "que está em ruínas e é uma espécie de ninho de pombos, vai tornar-se um espaço absolutamente inacreditável”, disse à imprensa.

Na altura, Carrilho da Graça disse estar já a estudar o local no sentido de que depois de recuperado este fique com a iluminação que se exige para acolher arte e com o mínimo de distrações possíveis.

Porque "o fundamental é que quem o visite possa desfrutar da arte o mais possível", referiu o arquiteto.

Sérgio Mah, que será o curador da Coleção Sild, disse que se considerava "um privilegiado" por ter sido escolhido, acrescentando que a coleção do artista plástico “é muito especial e permite ter um olhar atento e retrospetivo sobre muita da arte contemporânea produzida nas últimas décadas”.

Sobre a data de abertura do novo espaço, Sérgio Mah disse, na altura, que era apontado o final de 2018 ou início de 2019.

Carrilho da Graça acrescentou que a intenção era que o novo espaço abrisse ao público por ocasião do 70.º aniversário de Julião Sarmento (4 de novembro de 2018), embora já considerasse difícil que tal acontecesse.

Já o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, por seu lado, sublinhou, na altura, que a cedência da coleção de Julião Sarmento à autarquia vinha na altura ideal, por permitir a recuperação de um local que já esteve para ser várias coisas sem que se tivesse concretizado qualquer projeto.

“É um edifício que está num sítio particular, tem o Centro Cultural de Belém ao pé e ganhou uma centralidade única e vai ganhar cada vez mais, desde a abertura do MAAT, na proximidade”, referiu.

“O que nós temos hoje em Belém não é um distrito cultural afirmado no património histórico do país, o que hoje estamos a construir em Belém é o polo mais dinâmico da modernidade e da arte contemporânea que temos na cidade de Lisboa”, sublinhou Fernando Medina.

A coleção de Julião Sarmento inclui obras de Joaquim Rodrigo, de quem Sarmento foi assistente, um retrato do artista feito pelo espanhol Miquel Barceló, que possui também um próprio retrato criado pelo autor português.

Outros portugueses cruzaram a vida de Sarmento. É o caso de Álvaro Lapa, com "Que horas são que horas (Os deuses antigos)", de 1974, Eduardo Batarda,com "Thumbnails e Modelos", de 2013, Jorge Molder, com "Mão tem de me dizer seja o que for", de 2011, Rui Chafes e "Vertigem V", de 1988-1989, Rui Sanches, com "Julisa", de 1996, e Fernando Calhau, com seis peças em placas de aço quinado, de 1991, entre muitos outros criadores portugueses.

Trabalhos de artistas estrangeiros também estão incluídos na coleção privada de Sarmento, como "Committee" (2000), de Andy Warhol, uma peça "sem título" de Cindy Sherman (1990-1991), "Jimmy Paulette on David's bike" (1991), de Nan Goldin, "Monocromo Japonês" (2000), da brasileira Adriana Varejão, ou "Dragon Head 6" (1989), de Marina Abramovic.