Numa entrevista ao The Hollywood Reporter, o realizador Roman Polanski, abordou o tema que desde 1977 se tornou incontornável quando se fala do realizador de "A Semente do Diabo" e "Chinatown", e vencedor do Óscar por "O Pianista": a acusação de drogar Samantha Geimer quando tinha 13 anos e de a violar na casa de Jack Nicholson, em Los Angeles, enquanto o ator estava ausente.

Num acordo com os promotores, reconheceu ter mantido "relações sexuais ilegais" com uma menor após caíram acusações mais graves e passou 42 dias sob custódia para ser submetido a uma avaliação psiquiátrica antes de ser libertado.

De acordo com documentos judiciais, o juiz Harland Braun prometeu a Polanski que esse período seria o único da sua pena, mas no ano seguinte, com medo de que o acordo fosse anulado por outro juiz, Laurence Rittenband, o realizador fugiu para a França, convencido de que corria o risco de receber uma sentença até 50 anos.

Recusando regressar aos Estados Unidos sem garantias de que não seria posto novamente atrás das grades, seguiram-se vários pedidos de extradição. Um deles, em 2009, enquanto estava no Festival de Zurique, levou-o a passar um ano em prisão domiciliária enquanto se aguardava a decisão das autoridades suíças, que acabou por ser negado.

"Como sabe, há mais de 30 anos que Samantha Geimer anda a pedir para isto acabar. Mas lamento que os juízes que lidaram com isto nos últimos 40 anos estivessem corrompidos, um a proteger o outro. [...] Não sei, talvez um deles acabe por parar de o fazer", explicou o lendário cineasta franco-polaco no regresso a Zurique para apresentar o seu recente trabalho, "Based on a True Story".

O advogado que Polanski defende que a sentença que o condenou "in absentia" a 334 dias de prisão equivale ao tempo que esteve detido nos EUA e na Suíça, alegação que foi rejeitada em agosto por um tribunal de Los Angeles.

"Em relação ao que fiz: está acabado. Dei-me como culpado. Fui para a prisão. Regressei aos EUA para cumprir [a pena], as pessoas esquecem-se disso ou não sabem sequer. Depois fui preso aqui [na Suíça] após este festival. Portanto, tudo somado, fiz quatro ou cinco vezes o que me foi prometido", garante.

Desde o caso inicial surgiram mais duas acusações contra o realizador, agora com 84 anos, que nunca chegaram a tribunal.

Em maio de 2010, a atriz Charlotte Lewis acusou-o de violação quando tinha 16 anos, antes da rodagem de "Os Piratas" (1986). Já em agosto desde ano, uma mulher, identificada apenas como Robin, disse numa conferência de imprensa em Los Angeles que foi uma "vítima sexual" quando tinha 16 anos, em 1973.

Ainda em Zurique, Polanski disse que era "lamentável" que os seus filmes agora sejam vistos pelo filtro do que aconteceu em 1977 e do escândalo que chegou até aos nossos dias.