Richie Campbell é hoje um peso pesado em Portugal, embaixador do reggae em terras lusas. Destacando-se em 2013 com a faixa "That's How We Roll", a responsabilidade cresceu e a necessidade de surpreender sente-se mais do que nunca, tendo-nos surpreendido com o seu novo álbum, "In The 876", que lançou agora, a 4 de maio, sem aviso prévio. O SAPO On The Hop esteve à conversa com o cantor para descobrir mais sobre si e o seu novo projeto.
Este teu novo álbum, "In The 876", saiu sem aviso prévio. De onde surgiu a ideia de lançar algo desta maneira, completamente diferente das experiências anteriores?
Richie Campbell (R): A nossa ideia passa por tentar romper com o sistema normal, de associar uma data de lançamento ao álbum. Tinha estado a ler um artigo que falava precisamente disso, e por hoje em dia haver tanta informação que quando as pessoas sabem que o álbum sai daqui a um mês, acabam por se esquecer da data. Esta ideia de lançar de surpresa funcionou bem, porque assim que se soube que o álbum saiu, todos os media comunicaram ao mesmo tempo e toda a gente ficou mais curiosa, quiseram ouvir e comentar graças a esse factor surpresa. Se tivéssemos avisado e dado informações sobre o álbum, podia ter caído no esquecimento quando de facto saísse.
É verdade. Este é o teu 3º álbum de originais e entrou diretamente para o 2º lugar da tabela de vendas nacional! O que sentes quanto a isso?
R: Exatamente. É bom, é ótimo saber. Sabendo que sou um artista de um género de música que não é propriamente o mais transversal em Portugal, é bom saber que com o reggae cheguei ao nº 2 do Top Nacional.
Sabemos que o álbum foi gravado entre dois estúdios, em Portugal e na Jamaica. A Jamaica inspira-te? É por essa razão que está representada em local de destaque com o título do disco?
R: Inspira sim, de tudo o que penso do reggae, ela inspira-me. Mas mais do que a inspiração, o que eu mais gosto da Jamaica e a razão que me faz trabalhar lá várias vezes é o seu método de trabalho. A Jamaica é um país mais pequeno que o nosso, mas com um mercado de música muito mais dinâmico. A concorrência é muito mais apertada e quando lá estás forças-te a trabalhar dez vezes mais!
A concorrência é apertada!
R: Há mil e uma pessoas que fazem aquilo melhor do que tu, basicamente. (Risos) Tanto que o nosso ritual de trabalho na Jamaica é das 9h às 20h, como qualquer outro trabalho de escritório, e é daí que saem as melhores coisas.
Como têm sido as reações a este teu novo álbum?
R: Acho que está a correr bem, e as vendas mostram isso. Nos concertos que temos dado as pessoas também já começam a cantar a músicas, e isto vai com o tempo. Eu acho que um álbum demora muito mais a crescer do que um single, e é preciso mais pessoas para ouvir e eu entender se correu como eu queria ou não. Para já tem sido ótimo, e todas as pessoas com quem eu contacto dizem que gostam mais deste álbum do que dos outros, e esse é sempre o nosso objetivo.
O que te serviu de inspiração para este novo álbum? Existe alguma faixa com que identifiques mais?
R: Talvez a última, "Better Than Today". É uma música com um tema mais profundo, que fala de ultrapassar dificuldades. Como deves imaginar, desde que eu lancei o último álbum as coisas evoluíram imenso, mas com isso também vieram muitas preocupações.
A responsabilidade agora já pesa...
R: Exatamente. (risos) E com isso é óbvio que já houveram muitos problemas, muitas coisas que correram mal e outras que correram bem. E essa música serviu como terapia para alguma dessas coisas, fala de encarar tudo de forma positiva, que amanhã vai ser melhor. (risos) É uma música de que gosto muito, não necessariamente uma música de reggae, mas tem uma mensagem muito importante.
Tens algum plano para o futuro ou vão continuar sem aviso?
R: Não (risos). Agora as surpresas acabaram, não pode ser tudo surpresa! Mas planos para um futuro longínquo não tenho, o nosso objetivo agora é promover o álbum, tanto cá como lá fora. Anunciamos há pouco tempo as datas da tour, e vamos estar um bocado por todo o lado. Cá temos o Sumol Summer Fest, o Sol da Caparica, o MEO Marés Vivas. Lá fora vamos estar na Inglaterra, na Alemanha, na Áustria, na Polónia, e penso que Cabo Verde também. Felizmente estamos a conseguir chegar onde queremos e a espalhar a música. É esse o objetivo, trabalhar e promover, e depois no fim do verão talvez faça mais música, não sei se para um álbum ou só para lançar, mas no Inverno também se faz alguma coisa.
Passando para algumas perguntas de resposta rápida, quero que me digas a primeira coisa que te passa pela cabeça, ok? O Bob Marley já não está entre nós, mas se estivesse, qual seria a faixa que escolhias para ele colaborar contigo?
R: Dele?
Não, mesmo tua.
R: Hum, provavelmente... Ham... Não é uma pergunta tão fácil assim (risos). Provavelmente a que te disse, a "Better Than Today". Sim, porque as músicas... Ai, é só uma resposta rápida, pronto, acabou! (risos)
Não, não, explica à tua vontade! (risos)
R: Ok, ok (risos). A razão vem do facto de as músicas que mais gosto do Bob Marley não serem as músicas de reggae, são as músicas mais lentas e mais emotivas que ele tem.
Se te dessem a escolher entre a Jamaica e Portugal, o que optavas?
R: Portugal!
Sabemos que foste várias vezes à Jamaica e já não és um turista novato.
R: Exato, exato (risos).
Se fosses o meu guia turístico e só me pudesses levar a um local, qual seria o destino de eleição?
R: Um sítio... Existe um sítio em Ocho Rios, na costa norte de Kingston, numa zona que não é propriamente turística nem citadina, é uma mistura de campo com praia. A primeira vez que lá fomos ficamos numa quinta gigante, onde no meio existia um rio com uma cascata. É sem dúvida o meu local favorito na Jamaica e era ai que eu te levava.
Parece-me bem! Imagina agora que eras uma artista feminina. Quem gostarias de encarnar?
R: A Sara Tavares.
Ah, nós sabemos que ela também faz parte de uma das colaborações neste novo álbum, pela qual esperavas há bastante tempo.
R: Exatamente, não é à toa, sempre foi a minha artista portuguesa preferida.
Qual seria o teu lema de vida?
R: Hum... "Nada é assim tão importante".
Qual a tua pior experiência em carreira?
R: Pior experiência? Tive tantas... Acho que o problema aqui é que todas as más experiências ajudaram a melhorar alguma coisa, mas provavelmente foi na Polónia. Em 2011 fiz uma tour com um artista jamaicano, onde eu fazia a primeira parte dos seus concertos. E houve um dia em que eu ia caindo em palco, não caí mas desequilibrei-me e saltei para o fosso, e voltei a saltar para cima! Foi mau, mas pelo menos não foi muito aparatoso. Não foi agradável, de todo. (Risos)
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