Camaratores, sub-palcos, sala de reuniões, jardim de inverno e até o bengaleiro do Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, serão ocupados, nos dias 30 e 31, por uma programação cultural em torno da ideia de casa.

A iniciativa chama-se "Estar em casa", tem curadoria da jornalista Anabela Mota Ribeiro e do encenador André E. Teodósio, e contará com espectáculos de música, dança, teatro, conversas, leituras ou cinema, de manhã até à noite, que mobilizarão 170 artistas e personalidades.

A partir do mote que dá nome à inicativa, Anabela Mota Ribeiro e André E. Teodósio contaram à agência Lusa que foi pensada uma programação transversal em matéria de públicos, que acontecerá em diferentes escalas e com distintas expressões artísticas.

Nesse fim de semana, aquele teatro municipal terá, por exemplo, aulas para crianças sobre amor, poesia e economia, um espectáculo contínuo de Mónica Calle, num camarim, outro de dança, por João Fiadeiro, visitas guiadas aos bastidores, com Rui Horta, Gisela João ou João Tordo.

Serão iniciativas com escalas diferentes em matéria de espectadores; para muita gente, como o concerto "Pequenos delírios domésticos", que Sérgio Godinho e Filipe Raposo preparam para a sala principal, ou para uma única pessoa, como a iniciativa "Cartas de amor", nos camarotes do teatro.

Anabela Mota Ribeiro e André E. Teodósio sublinham a abertura do programa à comunidade e à família, sem custos. A maioria dos eventos é de entrada gratuita ou terá preço reduzido.

"Eu gosto de pensar na casa como lugar de diferença, de criação e de encontro (...) É alimentar essa ideia de partilha, integração da cidade no espaço do São Luiz e o São Luiz no espaço de cada família", disse Anabela Mota Ribeiro.

No bengaleiro do São Luiz haverá uma "venda de garagem" cujas receitas reverterão para o Núcleo de Apoios a Animais Abandonados de Sintra. No teatro-estúdio Mário Viegas, os ilustradores Catarina Sobral e João Fazenda farão ateliers artísticos para crianças.

A este programa está subjacente "a ideia de transformação de espaços que são tidos como espaços sagrados, espaços que podem ser vistos como classistas ou exclusivos", e que depois estão abertos a todos, contou André E. Teodósio.

Há ainda um manifesto implícito na programação, contaram. "Tentámos procurar espectáculos que trabalhassem sobre estes temas poéticos da casa. E que fossem de criadores que tivessem ficado sem casa ou que o Estado se tem demitido de os proteger", como aconteceu com o coreógrafo João Fiadeiro e com coletivo Cão Solteiro.

O encenador espera que os espectadores que passem naquele fim de semana pelo São Luiz tenham acesso "a pessoas que não têm muita visibilidade nos media e que depois desaparecem, que não têm muita divulgação".

Toda a programação do "Estar em casa" está disponível na página oficial do Teatro Municipal São Luiz.

O teatro inaugurou a 22 de maio de 1894, com um espectáculo de ópera, mas pouco ou nada resta desse tempo. O espaço foi reconstruído depois de ter ardido num incêndio, em 1914, teve novamente uma intervenção profunda em 1999 e hoje é considerado um dos equipamentos culturais de relevância, pertencentes à autarquia de Lisboa.