Palco Super Bock, 1h da manhã, sentia-se por todo o MEO Arena um nervoso miudinho para que pudesse assistir-se ao mito tornado realidade. Mal se sabia que os Blur iriam esgotar todas as suas energias.

Damon Albarn - SBSR

A entrada foi iniciada com uma música ambiente bastante calma, até os quatro artistas tomarem o palco de assalto: Damon Albarn (voz), Graham Coxon (guitarra/voz), Alex James (baixo), Dave Rowntree (bateria) mostraram-se de rompante, motivando as vozes de toda a gente que se encontrava na plateia. O vocalista e líder da banda, Albarn, não foi de modas: espicaçou o público, molhando-o com água e entoando "Go Out", de The Magic Whip. Este foi o primeiro grande momento do concerto - a entrada, que foi melhor ainda do que a por que todos esperávamos.

Depois disto, desta entrada, voltámos a 1991 - a tempos de Lazer (Leisure) - e, de facto, "there('s) was no other way". O concerto decorria como se assim estivesse destinado a decorrer.

Podemos dizer que alguns dos grandes pontos altos da noite aconteceram praticamente todo o concerto, com Damon Albarn a mostrar-se sempre irrequieto e mais que pronto para alinhar nos sonhos dos fãs, quer para cantar colado a eles, quer em cima deles... Só não tocou no meio deles porque não lho permitiram; julgo que a sua vontade era mesmo juntar-se à festa.

Desde músicas deste ano (como Thought I Was a Spaceman) a músicas do milénio passado (como End of a Century, de 1994), os Blur pavonearam-se por Lisboa muito senhores do seu nariz - e com toda a razão. De um modo que se vai tornando mais ou menos cliché entre os grandes nomes que vão sendo anunciados para o nosso país, foi novamente o vocalista do grupo inglês a trazer-nos uma alegria: colocou a bandeira nacional às costas e fez-nos orgulhar-nos. De quê? Bem, de tudo e de nada. De sermos portugueses, de termos aguentado um dia inteiro e estarmos com energia para saltar ininterruptamente, de sabermos as letras de cor... Este foi, com certeza, o terceiro momento da noite. E que momento!

Em Parklife, do álbum homónimo à música (lançado em 1994), os Blur surpreenderam novamente, arrancando um jovem do público para subir ao palco, com eles cantando o refrão. Sempre de bom humor, todos os membros do grupo acederam aos abraços eufóricos do fã, cuja subida ao palco havia sido prometida uns minutos antes.  E aqui podemos identificar o quarto momento. Para mim, que conhecia o rapaz que subiu ao palco, foi doloroso, mas fiquei feliz pela iniciativa, claro!

Uma hora e meia de concerto. Faltavam os clássicos dos clássicos. Às 2:30h em ponto, começam uns acordes semelhantes aos da Song 2. Mesmo não sendo iguais, ninguém se deixou enganar: todo o MEO Arena se tornou num moshpit coletivo, que por todo o lado brotava alegria, suor e, claro, as vozes de quem acompanhava os quatro britânicos. Nitidamente, o quinto momento - não é para ser desmancha-prazeres, mas o concerto não acabou aqui, nem tão pouco acabaram os seus grandes momentos.

Pareciam despedir-se com This is a Low, também de 1994. A plateia estava satisfeita mas berrava por mais. Após cinco minutos com os corações em suspenso, as vozes unem-se no pedido de encore - e funcionou na perfeição. Os Blur voltaram e tocaram mais cerca de meia hora, dando-nos o prazer de ouvir Stereotypes, de The Great Escape (1996), seguidos da Girls & Boys - outra pertencente aos clássicos mais clássicos de sempre. O regresso do encore constituiu o sexto e grande último momento do concerto. Uniu-se parcialmente com a despedida da banda britânica, que deixou toda a gente com muita sede - tanto literal como figurativa -, deixando para trás apenas saudade.