Na primeira semana de novembro do ano passado, Sean Penn regressou à Ucrânia e, num gesto de simbolismo elogiado e ridicularizado, ofereceu um dos seus Óscares ao presidente Volodymyr Zelensky.
Ainda não se sabe qual delas está agora em Kyiv: o ator ganhou duas estatuetas, por "Mystic River" (2003) e "Milk" (2008).
"É apenas uma coisa simbólica, pateta, mas se souber que isto está aqui, sentir-me-ei melhor e suficiente forte para as lutas", ouvia-se Penn a dizer a Zelensky, que por sua vez insistia que se tratava apenas de um empréstimo "até à vitória da Ucrânia".
Antes, Penn estava em Kyiv para as filmagens de um documentário quando os primeiros mísseis russos atingiram o país a 24 de fevereiro de 2022, alterando completamente o seu cronograma.
A seguir, o ator ameaçou derreter os seus Óscares se a Academia não desse ao chefe de Estado ucraniano a oportunidade de intervir por videoconferência na cerimónia no final de março.
Este sábado, Penn apresentou no Festival de Berlim o seu novo documentário "Superpower", uma produção sobre a Ucrânia centrada no seu presidente, e explicou que a prenda foi uma reação à sua "vergonha" da Academia que entrega o prémio.
"O Óscar está lá no seu gabinete e pronto para ser derretido em qualquer altura se ele quiser", disse na conferência de imprensa.
A prenda, acrescentou, é "um pequeno gesto, simbólico entre dois amigos – inspirado pela minha contínua vergonha para com a liderança da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas ao escolher mostrar Will Smith a bater em Chris Rock em vez do maior símbolo do cinema e da humanidade a viver nos nossos dias. Prejuízo deles".
Conhecido pelo seu ativismo, o ator contou como o interesse inicial pela figura do comediante que se tornou presidente se transformou numa 'obsessão'.
"Foi uma forma comovente de conhecer alguém", explicou numa conferência de imprensa.
"Além do nascimento dos meus filhos”, confessou, “aquele encontro foi um dos grandes momentos da minha vida, sentir aquele coração cheio de coragem”, acrescentou.
A decisão do presidente ucraniano de não deixar o seu país durante os confrontos gerou repercussão mundial e o aumento da sua popularidade na Ucrânia, que, inicialmente, chegou a expressar ceticismo acerca do ex-comediante.
A admiração foi partilhada por Penn, que regressou ao país inúmeras vezes para filmar a situação no leste do território ucraniano, os danos causados pelos bombardeamentos e para dar voz a Zelensky dentro e fora do seu refúgio, sempre vestido com um uniforme militar.
O ator transmite uma mensagem pró-Ucrânia em ""Superpower"".
"Claro que a palavra 'propaganda' pode ser usada para depreciar o que para mim é a verdade sobre a unidade absoluta da Ucrânia. (...) Fizemos um filme totalmente tendencioso porque essa foi a verdadeira história que encontrámos", enfatizou, orgulhando-se de ser considerado um "propagandista".
Tanto Penn como Zelensky estiveram na gala de abertura do festival, na passada terça-feira.
O presidente ucraniano fez uma transmissão ao vivo de Kyiv para pedir aos aliados que impeçam a Rússia de construir "o mesmo muro" que dividiu Berlim ao longo de décadas.
A 73.ª edição do festival dá atenção, em especial, à Ucrânia e ao Irão, onde a repressão do regime levou vários cineastas à prisão. Há 18 obras com temas dedicados aos dois países.
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