O céu nublado e a chuva não demoveram os festivaleiros que, tal como aconteceu na sexta-feira, deram ainda mais vida à Avenida da Liberdade, em Lisboa. Este sábado, 25 de novembro, o Vodafone Mexefest arrancou com Nasty Niles, do coletivo norte-americano Pro Era, que aqueceu o Cine-Teatro Capitólio com as suas rimas.

Depois da hora de jantar, às 20h30, as atenções dividiram-se entre o Cinema São Jorge, onde atuou Aldous Harding, e o Teatro Tivoli BBVA, que recebeu Luís Severo. O artista português apresentou o seu último disco, descrito como uma viagem emocional por Lisboa.

“Amor e Verdade” e “Olho de Lince” foram dois dos temas que não ficaram de fora do alinhamento do concerto de Luís Severo que, em palco, só com a sua voz e um piano, roubou sorrisos aos presentes.

O horizonte de Aldous Harding

Já no Cinema São Jorge, na sala Manoel de Oliveira, Aldous Harding, que diz ser a versão feminina de “Alice”, trouxe consigo o seu segundo disco, "Party", e, com a sua voz grave e pesada, acertou como uma flecha nos corações de todos os que não quiseram perder o concerto.

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A vulnerabilidade e a estranha simplicidade da neozelandesa de 26 anos dão força às suas canções, que roubam a atenção de todos - durante cerca de 50 minutos, as palavras cantadas de Aldous foram as únicas que se ouviram na sala lisboeta porque ninguém se atreveu a sussurrar para o lado.

Com canções como "Imagining my man", Aldous Harding confirmou o seu charme silencioso e deixou o público entrar um pouco na sua intimidade. Mas o ponto alto da noite chegou com  "Horizon", que resume o mundo musical da cantora - "Here is your princess/ And here is your horizon" ("aqui está a sua princesa e este é o seu horizonte").

Às nove da noite em ponto, os Cigarettes After Sex abriram o palco do Coliseu dos Recreios. Os norte-americanos apresentaram alguns dos temas do último disco, editado em junho, mas também brindaram os fãs com as canções com as quais se deram a conhecer ao mundo.

Durante uma hora, o grupo de Brooklyn embalou o Coliseu com a sua pop melancólica e sonhadora, sempre em tons de preto e branco.

Silêncio, que se vai cantar o fado 

Pouco depois, na mesma rua, na Casa do Alentejo, Paulo Bragança reuniu dezenas de pessoas numa sessão de fado. Conhecido pela estética gótica e por ser um vanguardista dentro do fado, o músico, que conquistou protagonismo na década de 1990 e que esteve desaparecido dos palcos durante mais de uma década, provou no Vodafone Mexefest que regressou para ficar.

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No concerto, o fadista punk, que continua a cantar sem sapatos, apresentou temas que vai editar em álbum e revistou fados de outros autores, como "Mistérios do Fado".

Antes das onze da noite, as atenções voltaram-se a concentrar no Coliseu dos Recreios. Os responsáveis? Os Everything Everything. A banda de Manchester trouxe na bagagem o seu último registo, "Fever Dream", mas não deixou de fora do alinhamento os temas mais antigos.

As novas canções, mais desconcertante do que as anteriores e com letras aguçadas, fizeram, como diria Ivete Sangalo, o público tirar o pé do chão.

Everything Everything

Durante dois dias (24  e 25 de novembro), o festival Vodafone Mexefest  animou a Avenida da Liberdade e a baixa lisboeta. Este ano o festival contou com mais palcos em mais de uma dezena de espaços (Coliseu dos Recreios, o Cinema São Jorge, o Teatro Tivoli, a estação ferroviária do Rossio, o Palácio Foz, o Capitólio, o Palácio da Independência e a Casa do Alentejo), entre os quais um sótão, um autocarro, um terraço, dois palácios, duas salas de cinema e uma estação de comboios.

No segundo dia do evento, a par dos concertos, a organização programou ainda uma sessão de cinema dedicada ao músico norte-americano Charles Bradley, recentemente falecido.

O evento condensou mais de 50 concertos, alguns deles em simultâneo. Destroyer, Songhoy Blues, Hinds, Cigarettes After Sex, Oddisee, Pauli e Damon Albarn foram alguns dos protagonistas da edição deste ano. Já no capítulo do hip-hop, o Mexefest apostou em várias direções com nomes como Orelha Negra, os angolanos Eva RapDiva e MCK, Micro, Karlon, Allen Haloween e Valete.

A música portuguesa esteve também destaque, com concertos de Manel Cruz, Samuel Úria, Surma, Ermo, Paulo Bragança e Kilimanjaro, aos quais se juntaram alguns nomes da música brasileira, como Momo e Liniker e os Caramellows.