Em entrevista à agência Lusa antes de se estrear em palcos nacionais, no dia 5 de maio, no Theatro Circo, em Braga, e numa altura em que encabeça festivais como o de jazz de San Sebastián, Sofiane Pamart contou que hoje se sente livre no que faz e feliz por cruzar várias áreas musicais, que vão da música clássica ao rap.

Aos 32 anos, educado no Conservatório de Lille desde os 6, de onde se formou com medalha de ouro, apaixonado por Chopin, Sofiane Pamart já trabalhou com múltiplos rappers franceses como Scylla ou Médine, mas também com nomes fora do meio como o belga Arno.

“Sinto que encontrei o equilíbrio perfeito na minha vida. É assim que experiencio a minha vida desde pequeno. Quando andava no conservatório, estudava lá música, mas assim que saía estava num contexto completamente diferente”, afirmou o músico francês.

O novo disco, intitulado “Letter”, lançado já este ano, reúne uma série de composições suas, a solo ao piano, com exceção do tema “Sincerely”, no qual é acompanhado pela irmã, Lina, no violino.

“Fui o primeiro a entrar na escola de música e depois a minha mãe pensou que seria bom para a família toda”, seguindo-se, então, a irmã e o irmão mais novo, explicou Sofiane Pamart à Lusa.

“A minha mãe fez um contrato connosco: podem fazer o que quiserem na vida, mas têm de o fazer ao nível máximo, ao melhor das vossas capacidades. Foi o que ela fez. Tornou-se professora de francês e foi como passou da pobreza à classe média”, realçou o músico.

Nos últimos anos, Pamart esgotou espaços como a Sala Pleyel, da Filarmónica de Paris, e tem concertos marcados para a Accor Arena, na capital francesa, onde será o primeiro pianista a solo a atuar num espaço com capacidade para 20 mil pessoas, segundo o Le Figaro.

Por vezes desvalorizado pela crítica especializada da área clássica, por conseguir atrair públicos fora dela, Sofiane Pamart diz ignorar as palavras negativas e aproveitar o que têm de bom: “Significa que a minha carreira se desenvolveu a um ponto em que há pessoas descontentes com isso. Se eu não fizesse nenhum ruído não diriam nada, iria ser-lhes indiferente. É a mesma vida que o meu avô teve. Como um trabalhador pobre, ninguém queria saber o que pensava. Fico contente que estas pessoas, agora, deem energia à minha música, mesmo que não digam coisas boas. Não quero saber”.

“O meu grande objetivo é tocar o coração das pessoas e não das pessoas que analisam tudo, porque não são assim tantos e o meu objetivo não é fazer algo intelectual”, realçou o músico, que admite, num futuro distante, voltar a interpretar compositores da música erudita.

Questionado sobre o impacto da pandemia no seu trabalho, Sofiane Pamart sublinhou que aproveitou para compor e para estabelecer ligações com o público: “Partilhava tudo o que compunha e as pessoas reagiam. Consegui estar próximo das pessoas, num período em que estavam muito tensas e o piano as ajudava. Recebi imensas mensagens a agradecer pela música”.

É a esta ligação que o pianista atribui o facto de estar a esgotar salas com milhares de assentos.

Questionado sobre as eleições presidenciais em França, cuja segunda volta, entre o atual Presidente, Emmanuel Macron, e a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, acontece no domingo, Pamart tomou alguns segundos antes de responder: "É óbvio que há um cenário que eu realmente não quero para a França, mas o que realmente espero é que a música faça com que as pessoas se importem mais umas com as outras".

"O que eu faço, que é pequeno comparado com uma nação, é que quando as pessoas me vêm ver elas não querem saber sobre o que as outras pensam, estão juntas pela mesma paixão. E não quero dividir, porque já há tanta coisa que divide, fico contente por fazer algo que una", acrescentou.

Sofiane Pamart vai estrear-se em Portugal no palco do Theatro Circo, no dia 5 de maio, num serão com a também francesa Christine Ott, a abrir. À Lusa, o músico realçou que, ao contrário do que é habitual, reservou uma semana para descobrir o Porto e a região de Braga.

O concerto acontece no âmbito do ciclo de piano Respira, que também vai incluir atuações de Macha Gharibian e Abdullah Ibrahim, além de uma instalação de Diamanda Galás.