Depois de ter tido estreia em julho no Festival de Avignon, em França, “Sopro” sobe agora ao palco daquele teatro nacional. A figura central da peça é a ponto Cristina Vidal, há 39 anos a sussurrar, na sombra, palavras aos atores.

O elenco integra os atores Isabel Abreu, João Pedro Vaz, Sofia Dias, Vítor Roriz e Beatriz Brás e, pela primeira vez visível num palco, Cristina Vidal, 61 anos.

“Sopro” é uma peça de teatro sobre teatro, a partir da história e das memórias de Cristina Vidal, como aquela sobre a primeira vez que viu uma peça de teatro, quando tinha cinco anos e foi dentro da caixa do ponto, debaixo do palco. Aos 21 tornar-se-ia ela mesma uma ponto.

O cenário de “Sopro” é minimalista, com uma cadeira de descanso vermelha, cortinas brancas e um chão de madeira velha, de onde brotam ervas e uma árvore. Em palco estão os atores e sempre junto deles, com o texto na mão, está Cristina Vidal, vestida de preto, a soprar-lhes baixinho o texto dramatúrgico.

“Nunca quisemos fazer uma peça biográfica, queríamos fazer uma peça alimentada por esta memória da Cristina e de outras pessoas, pelas memórias dos corredores deste teatro”, explicou Tiago Rodrigues aos jornalistas no final de um ensaio.

Relutante em passar para a frente do palco, Cristina Vidal contou que acabou por ceder à ideia de Tiago Rodrigues de se apropriar da história dela. “É uma homenagem muito generosa da parte do Tiago aos trabalhadores que trabalham na sombra, digamos assim”.

Cristina Vidal é ponto no teatro nacional juntamente com João Coelho e Tiago Rodrigues lembra que são “os últimos dois pontos profissionais a funcionar em Portugal neste momento”.

“É uma profissão em vias de extinção. (…) É uma metáfora da memória do próprio teatro”, disse.

“Sopro” ficará em cena até 19 de novembro estando prevista itinerância em 2018, nomeadamente em Viseu e, no próximo outono, estará um mês em Paris.