O novo espetáculo do Teatrão, que vai estar em cena na Oficina Municipal do Teatro (OMT) até 23 de maio, encerra um ciclo da companhia de criações para públicos infantis e juvenis a partir de autores portugueses, que começou em 2017, com Sophia de Mello Breyner Andresen, e que contou ainda com viagens ao universo de Manuel António Pina e Afonso Cruz.

Num espetáculo onde os atores estão sempre a caminhar, o fio condutor das histórias que vão surgindo centra-se na ideia da memória, disse à agência Lusa a diretora da companhia Isabel Craveiro.

"O que cose as histórias é essa ideia de para que é que serve a memória? Como é que a gente carrega as coisas essenciais da vida?", acrescentou.

O espetáculo revela também a ligação muito forte de Ilse Losa à natureza, explorando-se ainda o referencial "casa/fronteira", com histórias de abandono ou de deslocações, numa clara alusão à própria história de vida da autora, que nasceu na Alemanha, e de onde saiu face à ascensão de Hitler.

Segundo Isabel Craveiro, o ato de caminhar remete também para uma ideia de se estar "aberto ao que se vai encontrar, de se absorver uma cidade que não se conhece ou da generosidade e disponibilidade de olhar para o outro".

"Eu preciso de perceber como faço parte, como contribuo e como não torno a memória numa coisa estática e num centro sentido doce. Interessa-nos muito não infantilizar ou tornar isto numa leitura delicodoce", frisou.

Para Isabel Craveiro, a obra de Ilse Losa torna-se ainda mais relevante num país "desequilibrado", seja nos movimentos do interior do país para o litoral, na emigração ou na mitologia associada aos descobrimentos.

Para a criação do espetáculo, a companhia leu "praticamente toda" a obra de Ilse Losa, centrando a peça em histórias onde fica muito presente "a dimensão da consciência social".

"Estas personagens que vemos são pessoas que trabalham, simples, que vivem de maneira precária e é interessante porque habitualmente são invisíveis. Normalmente, não são estes os grandes heróis das histórias", notou.

"Ilse, a Menina Andarilha" é interpretada pelos atores João Santos, Margarida Sousa e Sofia Coelho.

A ilustração é de Ana Biscaia, o cenário de Filipa Malva e o desenho de luz de Jonathan Azevedo.