O TNSC, em Lisboa, vai encerrar para obras de requalificação e durante esse período estimado de dois anos terá de “alocar 250 pessoas”, o que “obviamente é prioridade nacional”, disse à Lusa Conceição Amaral, presidente do conselho de administração do Organismo de Produção Artística (Opart), que gere o São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado (CNB).

“Foram feitos muitos contactos para tentar encontrar soluções que minimizassem o efeito negativo da nossa atividade, porque encerrar o São Carlos no Chiado ao público não é encerrar a atividade do São Carlos e do Opart”, disse a responsável à Lusa, sublinhando a “oportunidade única financeira” de fazer o investimento necessário, através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), naquele que é o único teatro de ópera nacional.

A mudança do São Carlos para o Tribunal da Boa Hora gerou alguma contestação entre magistrados, porque o edifício, pertencente ao Ministério da Justiça, estava inicialmente destinado a alojar o Conselho Superior de Magistratura e gabinetes de juízes do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal da Relação, no âmbito de um protocolo celebrado em 2018.

Esse acordo acabou por não ser formalizado e o Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça, juntamente com a Direção-Geral do Tesouro, entregou por dois anos o imóvel ao São Carlos, no âmbito de um novo protocolo com o Opart.

“É uma premissa nacional, uma obrigação, que nós temos de continuar a trabalhar e de continuar a fazer uma programação para o território nacional. Para isso precisamos de instalar todos os serviços, os corpos artísticos, a orquestra e coro, espaços e ensaio, sabendo que é muito complexo trabalhar com equipas separadas. Seria impossível ter 250 pessoas a trabalhar em vários andares ou vários espaços da cidade”, explicou.

Segundo Conceição Amaral, inicialmente esteve prevista uma solução dessas, mas concluiu-se que “seria caríssimo e impossível de gerir”.

Foram também procuradas soluções junto do Centro Cultural de Belém (CCB), do Palácio Nacional da Ajuda e da GNR, para encontrar um espaço que permitisse ter as condições para trabalhar, mas que também garantisse espaço que não fosse de trabalho, para ter armazém, para guardar acervos, figurinos, roupa e outro material.

Foi então que “o Tribunal da Boa Hora foi identificado como uma possibilidade, sabendo que não estava a ser ocupado”, e que esta é uma solução provisória, que, ainda para mais, vai beneficiar o imóvel com algumas obras de melhoramento, financeiramente suportadas pelo Opart.

“O Opart limpa, acompanha, vai tratar da canalização, vai tratar da eletricidade, vai pintar, vai arranjar o chão, e tudo o que nós fizermos obviamente não vem connosco, ficará para que de futuro seja usufruído por quem vier a seguir”, destacou a presidente.

A principal razão que levou à escolha do Tribunal da Boa Hora prende-se com o facto de ficar “a cinco minutos do São Carlos”, de facilitar o “trabalho artístico de um coro, de uma orquestra e de equipas técnicas, e o acompanhamento de uma obra que se quer rigorosa e feita ao minuto, ao dia, porque o prazo é muito curto para uma execução do maior investimento do PRR na cultura”.

“Neste momento temos um protocolo para uma cedência temporária assinado em agosto deste ano e estamos a começar com a limpeza”, acrescentou.

Quanto ao investimento estimado para esta obra, a responsável acredita que ficará abaixo dos 700/800 mil euros, valor identificado num levantamento.

No que respeita a calendarizações, Conceição Amaral disse que a atividade decorrerá normalmente até julho de 2024 – com atividade interna até junho e o Festival ao Largo no mês seguinte – a que se seguirá o processo de mudança.

“Temos que encerrar ao público para fazer a mudança, talvez em setembro, outubro, a maior parte das equipas – estamos a falar de 24 - já estejam instaladas na Boa Hora, ou seja, dentro de um ano estaremos a ir para lá”, adiantou.

No novo edifício, além dos gabinetes e equipas de trabalho, serão também instaladas salas de ensaio para o coro e para orquestra, até um limite de instrumentistas.

“Neste momento, estamos em negociação com outros espaços para fazer outro tipo de ensaios, se for [a Orquestra Sinfónica Portuguesa] não temos nenhuma sala para o fazer no Tribunal da Boa Hora, serão os ensaios a meio de peças que nós podemos circular pelo país. Os ensaios sinfónicos serão feitos nos locais e com o acordo das estruturas com quem vamos fazer a programação. Neste momento está a ser desenhada”, acrescentou.

Também não haverá sala de espetáculos, mas nessa altura o São Carlos estará a fazer programação com o CCB e no Teatro Camões, que já terá terminado as obras em curso (a CNB está agora instalada no São Carlos e nos estúdios Víctor Córdon).

A maior parte da atividade artística será feita em digressão pelo país todo, disse Conceição Amaral, adiantando que “já há protocolos assinados com várias câmaras, estruturas parceiras, porque fazer ópera no país não é fácil e nem todas as estruturas têm capacidade para ter a Ópera do São Carlos” tal como ela é feita no teatro em Lisboa.

A programação ainda está a ser preparada e deverá ser apresentada até ao final do ano, juntamente com o projeto para as obras de requalificação.

“O projeto de arquitetura está adjudicado. João Mendes Ribeiro ganhou o concurso internacional, neste momento estamos na apreciação dos estudos prévios e de trabalho”.

Em junho deste ano foi anunciado que as obras de reabilitação do TNSC só iriam começar no segundo semestre de 2024, depois de inicialmente previstas para arrancar em janeiro do próximo ano.

O PRR para a Cultura prevê 27,93 milhões de euros de investimento na requalificação do edifício e inicialmente as obras estavam previstas entre janeiro de 2024 e setembro de 2025.