Esta é uma de três exposições que abrem ao público no mesmo dia, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), sendo as outras uma mostra coletiva de várias comunidades, intitulada “Interferências”, e a exposição “Naturezas visuais”, que prossegue a abordagem das questões climáticas.

“Prisma” é a proposta “monumental e inesperada” que Alexandre Farto, também conhecido por Vhils, traz ao museu, recorrendo exclusivamente ao vídeo, uma linguagem que tem vindo a aprofundar mais recentemente, segundo os responsáveis do MAAT.

Esta instalação marca “o regresso de Vhils, com outra ambição e outra linguagem”, mas mantendo a “continuidade” daquela que é a sua identidade, afirmou o diretor artístico do museu, João Pinharanda.

No espaço da galeria oval do MAAT, ecrãs côncavos, de grandes dimensões, dispostos em duas alturas (uns ao nível do chão, outros pendurados sobre os primeiros), com imagens em câmara lenta em projeção contínua, formam uma espécie de labirinto, por onde os visitantes de perdem entre as imagens filmadas e as refletidas nos espelhos que revestem a parte de trás dos ecrãs.

“A ideia é criar esta justaposição entre cidades”, explicou Vhils.

O resultado pretendido com esta construção que manipula e distorce efeitos de espaço, escala, tempo e luz é uma “experiência imersiva, que ao mesmo tempo retire [o visitante] do espaço”, acrescentou.

As imagens representam o dia-a-dia, captado pelo artista antes do início da pandemia, em nove cidades de todo o mundo: Cidade do México, Cincinnati, Hong Kong, Lisboa, Los Angeles, Macau, Paris, Pequim e Xangai.

Trata-se de “vários frescos contemporâneos da cidade, que fazem pensar em tudo o que mudou nos últimos dois anos e suscitam uma reflexão sobre tudo o que se transformou”, afirmou o artista.

“Tento criar pontes entre diferentes realidades que vêm de diferentes cidades, mostrar diferenças que temos, mas também as confluências das cidades em que vivemos, porque a diferença entre nós e o outro se calhar não é assim tão diferente”, explicou Vhils.

A ideia de filmar “em ‘slow motion’ foi para fazer o inverso: o desacelerar da cidade. O ritmo da cidade é sempre muito acelerado”.

“Prisma” é o culminar de um processo de “introspeção criativa” que o artista tem vindo a trabalhar há já oito anos e que se “consolidou durante o pico da pandemia”.

A mostra visual é acompanhada por uma instalação sonora da autoria de soundslikenuno, que resulta na emissão de sons diferentes em cada um dos vídeos, havendo depois algumas sonoridades comuns a todos.

No mesmo dia vai ser inaugurada a exposição “Naturezas visuais. A política e a Cultura do Ambientalismo nos séculos XX e XXI”, que resulta de mais de dois anos de investigação crítica em ciência climática, práticas criativas e ecopolítica.

Esta é a continuação da jornada iniciada em 2021 com a instalação “Earth Bits – Sentir o Planeta”, baseada em dados científicos, e o programa público “Clima: Emergência > Emergente”, com curadoria do primeiro Coletivo Climático do MAAT.

Segundo a curadora italiana Beatrice Leanza, anterior diretora do MAAT, a exposição, que abarca todo o período dos anos 1950 até hoje, está dividida em três categorias: Ecologia profunda (1950-1980), Contexto Planetário (1990-2010) e Multiculturalismo (2010-2020).

A instalação central é construída como um tribunal ou uma assembleia, com 45 assentos, onde os visitantes se podem sentar e consultar os painéis digitais existentes em cada um dos lugares, com conteúdos informativos sobre esta temática.

A consulta pode ser feita deslizando o dedo sobre o monitor – como num telemóvel – em dois sentidos: horizontalmente, a imagem desloca-se por tempo, disponibilizando informação relativa aos anos abrangidos pelo estudo; verticalmente, vão passando os conteúdos divididos pelas categorias “Arte e Cultura”, “Ciência climática e tecnologia”, “Movimentos sociais” e “Governação global”.

Além desta zona de leitura, dos catálogos digitais integrados na instalação, esta “biblioteca do clima” inclui uma parte física, composta por uma estante com vários livros e publicações de referência sobre os assuntos abordados.

O corpo principal da instalação “Earth Bits” volta a estar exposto, apresentando novamente a consola interativa CO2 Mixer e uma nova versão do vídeo “Planet Calls”.

A terceira exposição, “Interferências. Culturas Urbanas Emergentes”, tem curadoria de António Brito Guterres, Alexandre Farto e Carla Cardoso.

Trata-se de uma mostra que coletiva no edifício do MAAT que transforma o espaço do museu num lugar de encontro entre várias comunidades e dimensões da cidade.

Na base está a ideia de que a diversidade cultural que caracteriza a cidade de Lisboa não suaviza as muitas histórias de uma metrópole segmentada e antagónica, explicam os curadores.

Por isso, esta mostra, composta por trabalhos de vários artistas emergentes, afirma diferentes expressões da cultura urbana, explorando itinerários narrativos da cidade através de um diálogo que privilegia o museu enquanto espaço crítico, lugar de encontro entre várias comunidades e sensibilidades.

Organizada em núcleos, aborda vários temas que estruturam o desenho da metrópole: “Contra a mudez das paredes”, “Coerção resistência e identidades”, “Desenho de cidade comum, nós por nós e cidade rede”, “Direito ao imaginário” e “Padrão”.

“Interferências” coloca em diálogo obras de artistas contemporâneos que usam as ruas como contexto de expressão e experimentação e obras de coleções institucionais e privadas, interpelando o público a refletir sobre este diálogo e o que ele pode construir.

No âmbito desta exposição, será reinterpretado o Painel do Mercado do Povo, uma intervenção mural coletiva promovida pelo Movimento Democrático dos Artistas Plásticos e realizada a 10 de junho e 1974.

A pintura deste mural, com a participação de 48 artistas, acontecerá no dia 10 de junho, integrando as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.

Segundo João Pinharanda, a intervenção decorrerá nos jardins do MAAT, num depósito circular em ferro, onde 12 artistas sobreviventes do grupo original vão pintar o painel, juntamente com artistas da exposição e outros que se destacaram na cena artística portuguesa ao longo dos últimos 48 anos de democracia.

Entre os 48 artistas participantes, estão já confirmados nomes como Ângela Ferreira, António Alves, Francisco Vidal, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, MaisMenos, Mariana Gomes, Petra Preta, Rappepa, Vhils e Wasted Rita.

As exposições que se inauguram, e que vão estar patentes até 05 de setembro, dão corpo à intenção manifestada por João Pinharanda de atrair novos públicos e trabalhar em programas de inclusão social, física e mental.